Imagem de capa: Cindy Goff, Shutterstock

Eu pensei em te convidar para entrar, mas te recebi na varanda da minha vida. Desculpa o mau jeito, é que a casa está bagunçada desde a última vez que deixei alguém entrar. Em outros tempos te esperaria com café quentinho e algo bom e doce pra te fazer sorrir, mas hoje, só tenho reparado na bagunça quando o silêncio assume o protagonismo. Eu até pensei em te chamar pra passear, mas, faz um bom tempo que não sei direito pra onde ir, eu não arriscaria não te fazer contemplar a paisagem mais linda da sua vida de mãos dadas comigo. Então, ficamos aqui.

Andei tropeçando nos pedaços de histórias que eu vivi, ainda tem retratos aqui dentro que não consegui me desfazer. Ainda tem coisas amontoadas pelos cantos que não consegui resolver. Eu gostaria de te chamar pra morar aqui, mas eu não sei direito se você vai se entender e se encontrar no meio de todo esse caos. Eu não vou te impedir de ir. Aqui é escuro, as vezes entra um pouco de sol pela janela e preenche o hiato entre o que será um novo dia.

Não pense que o problema é com você, faz um bom tempo que ninguém entra aqui, mas não fica triste não, eu mesmo tenho ficado aqui nessa rede, deitado nessa brisa do tempo esperando o verão chegar; É, eu sei que demora, agora que as folhas vão começar a cair, não é? Mas, não mede essa vontade de ficar, vai ficando e de um jeito sem pressa a gente se ajeita. Se esfriar, te visto minha pele. Aqui só é frio se a gente estiver sozinho.

Queria te ajudar com essa sua confusão também, mas mal sei onde cada coisa está aqui nessa bagunça que eu moro. Já comecei apanhando do chão as coisas boas que joguei um dia, julgando não precisar. Coloquei-as num lugar bonito pra me fazer lembrar que não foram só sorrisos que me fizeram quem sou, mas que foram essenciais pra que eu encontrasse motivação pra ir em frente. Olha lá o céu, como está bonito hoje, deita teu medo no meu peito e fica aqui, não acelera arrumar as coisas, alguém um dia me disse que com o tempo tudo vai pro seu lugar.

Giovane Galvan

Giovane Galvan é taurino, apaixonado e constantemente acompanhado pela saudade. Jornalista, designer, produtor e redator, escreve por paixão. Detesta futebol e cozinha muito bem. Suas observações cotidianas são dramáticas e carregadas de poesia. Gosta do nascer e do pôr do sol, da noite, mesas de bar e do cheiro das mulheres pra quem geralmente escreve. Viciado em arrancar sorrisos, prefere explicar a vida através de uma ótica metafórica aliando os tropeços diários a ensinamentos empíricos com a mesma verdade que vivencia. Intenso, sarcástico e desengonçado, diz que tem alma de artista. Acredita que bons escritos assim como a boa comida, servem de abraço, de viagem pelo tempo e de acalento em qualquer circunstância.

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