Jéssica Pellegrini

Não romantize relacionamentos abusivos.

Imagem de capa: Sergey Nivens, Shutterstock

Para início de conversa, amor não é questão de sorte ou azar.

Embora desvalorizem o real significado da palavra, o amor é um sentimento nobre. O amor é sonho de consumo, é ingênuo e completamente solidário. Ele desconhece os jogos, não conta com dados ou tabuleiros, e não precisa ser estratégico. Ele se faz presente, mesmo sem pedir licença. Ele domina, agrega valor e faz morada. O amor é incontrolável, não segue regras. O amor é irresponsável, não aceita ser subordinado. Ele é ansioso, não sabe esperar. O amor é recíproco, quando não o tornamos unilateral e egoísta.

Reconheço, friamente, o quanto está difícil encontrarmos alguém que coloque sentido em nossos planos amorosos. As pessoas estão desapegadas, não querem saber de compromissos. E, então, bate o desespero, a carência e uma certeza de que, no fundo, existe a possibilidade de morrermos sozinhos. Essa realidade é triste e bastante desanimadora.

Por outro lado, quando analisamos as situações com o coração, a percepção é contrária. O coração fantasia, se ilude, pensa alto e grande e, na maioria das vezes, se fode. O coração é responsável por alimentar muitas das nossas sensações. O que seria da paixão sem o frio na barriga? Sem o arrepio na pele? Sem o beijo molhado de língua? Mesmo que não pensemos nisso, o coração exerce um papel fundamental em nossa felicidade. Ele complementa várias funções do corpo e da alma, além de nos alertar quando o batimento fica acelerado.

Pulsação descontrolada é sinal de perigo. Apego, carinho, desejo, tesão, atração, vontade, afinidade, vínculo, encanto, fascinação, excitação, libido, sedução.

Não devemos brincar com o coração de ninguém. É parte mais preciosa que carregamos conosco. E quando entregue a alguém, deve ser por merecimento, jamais por empolgação ou qualquer coisa do tipo. Não é como na infância, que brincávamos de batata quente com uma bola. Não deve ser passado de mão em mão. O coração é frágil, de muito valor. Uma vez rompido, jamais será como antes. Não existe nenhum tipo de conserto, cola ou qualquer fita crepe que o torne intacto. Assim como a confiança, para o coração existe apenas uma chance de fazer dar certo. Se for inválida a tentativa, ele ficará em pedaços. E, vejamos, não existe nada mais triste do que sentir-se impotente para amar.

Não compare, muito menos iguale, amor com curtição. Tente ir com mais calma, pise em ovos, não tire os dois pés do chão. Conheça o território, leia o histórico, descubra as reais intenções. Não seja barato, reconheça o seu valor. Descubra e utilize o amor próprio a seu favor. Não seja mesquinho, pequeno ou egoísta. Não distribua as suas melhores características e qualidades, escolha a dedo por quem vale a pena arriscar. Plante sementes, semeie com dedicação, porque, na hora da colheita, certamente você ficará surpreso com as lindas rosas e esquecerá dos espinhos.

A realidade é exatamente essa. Quantidade não é sinônimo de qualidade. Quando aprendemos a escolher, distribuímos as sementes no lugar certo. Feito isso, o único trabalho posterior será cuidar da horta para que ela nunca pare de prosperar. Afinal, em plantações, assim como nos relacionamentos, tudo requer um certo amadurecimento. Não espere um buquê, de quem está parado em baixo do coqueiro esperando o sol abaixar. A vida é essa, um misto de quente e frio, que no final das contas, só nos mostra o quanto somos livres e estamos vivos.

A recrutamento é o segredo do sucesso. Não faça propagandas gratuitas, não desperdice o seu tempo. Tudo é uma questão de escolha, seja único e insubstituível.

Não seja consumido pelas doenças desse mundo, deixando de acreditar no amor.

Aqui acabam as descrenças.

Jéssica Pellegrini

Nunca confie em uma escritora confusa e romântica. As controversas entre um texto de amor e outro de desilusão, podem causar questionamentos pessoais. Consequentemente, sequelas mais graves.

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Jéssica Pellegrini

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