Imagem de capa: Navistock, Shutterstock
Montanhas e redemoinhos nos preparam para a vida. É na subida árdua e sinuosa que a paisagem mais bonita pode ser observada. Só entende como é fácil a descida quem se esforçou para subir os degraus. Para baixo todo santo ajuda. E para cima?
As subidas nos ensinam a valorizar o que enxergamos lá de cima. E as descidas nos ajudam a entender os motivos de tantas subidas. Uma coisa leva a outra coisa e o conjunto todo nos leva à compreensão de algo muito maior do que apenas estar vivo.
Viver é perceber o todo com humildade, mas saber o valor de cada parte desse todo. É compreender que as pedras mais preciosas nem sempre estarão do lado mais fácil. E que alcançá-las pode exigir uma longa caminhada.
O bom da travessia? Não é bem o trajeto que fazemos, mas as pessoas que escolhemos para andar conosco. Os parceiros de jornada são os diamantes que lapidamos ao longo da vida. Nossos companheiros são as joias mais raras, as que não estão à venda em leilão algum no mundo.
Nossos amigos são os peões que nos confortam nesse tabuleiro do tempo. São as peças que completam o quebra-cabeça do autoconhecimento. São eles que fazem o jogo mais doce e a chegada ainda mais gratificante.
Perdemos o medo de jogar os dados, será que é assim? Talvez a gente não deixe o medo, apenas crie coragem para enfrentar as várias possibilidades do jogo. Ás vezes quando a gente perde é que a gente ganha. Já leu isso?
A única certeza que tenho na vida é: de mãos dadas fica mais fácil não desistir das jogadas, seja para avançar dez casinhas ou para passar a vez. Além do que, não quero que o destino me poupe das subidas, pois faço questão das montanhas e redemoinhos do início desse texto. Andar em linha reta é para os que se acham incapazes de enfrentar a tempestade.
Eu quero mais é molhar a cara. Quero é esfolar a sola dos pés de tanto esmagar os pedregulhos que atravancam meu caminho. Enfrento as subidas mais íngremes do meu destino não porque gosto de sofrer, mas por me achar merecedora de tudo o que vem depois disso.
Quero olhar a paisagem, meu caro. Se isso me custar sérias dores nos pés, ainda quero olhar a paisagem. Lá de cima, que é de onde os grandes guerreiros registram os maiores espetáculos da vida.
E não quero olhar o espetáculo todo sozinha. De que adianta percorrer o deserto para encontrar o transparente poço mágico das águas sem meus soldados do lado? Nem sempre a vitória é de quem levou a medalha de ouro, mas sempre é de quem carregou junto sua tropa.
O importante não é chegar em primeiro lugar, mas cruzar a chegada. Quem para no meio do caminho perde a chance de dizer que tudo valeu a pena (e que sempre valerá o esforço para realizar nossos sonhos).
Quero gritar que valeu a pena agarrada em meus parceiros, fazendo com que compreendam que podemos andar as distâncias mais incríveis do mundo, mas sempre será o início do caminho – ou de um novo jeito de caminhar.
Afinal de contas, meu companheiro, nós estamos sempre no início do caminho.
Graças a Deus.
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