Imagem de capa: Pavel Ilyukhin, Shutterstock
Quando não tenho ninguém por perto para abraçar, abraço o meu gato, o meu cachorro, o meu ursinho de pelúcia. E se tenho alguém para abraçar, abraço, e TAMBÉM abraço o gato, o cachorro, e só deixo de fora o urso de pelúcia. Eu adoro abraço!
Descobri que gostava de abraço depois de grande, porque na minha infância não havia a cultura do abraço gratuito, aquele que se dá e se recebe por nada.
Na minha família de origem, os abraços eram regulados para chegadas e partidas, e mesmo assim, quando se pensava que o abraço estava começando, ele já tinha terminado.
Eram abraços legítimos mas sem consistência, que explodiam como flash no escuro, e desapareciam sem deixar lembranças. Eram abraços desbotados de afeto, corados de vergonha, de direção hesitante, quase como uma senha distribuída com parcimônia e formalidade. Toma lá e vá embora!
Foram tantas as inadequações internas entre os membros da nossa família que, apesar do amor que nos unia, vira e mexe, em vez de abraço, a gente trocava cabeçadas, por falta de uma mirada franca, direta, tranquila, por falta de um olhar corajoso e puro que enxergando diretamente o outro, nos assegurasse sem necessidade de palavras: “te abraçar é bom.”
Não me lembro de abraços em datas festivas. Talvez houvessem, mas dada a qualidade do abraço, eles não entraram na minha contabilidade de abraços inesquecivelmente bem dados.
Felizmente, a vida não me impediu de receber outros abraços. Abracei e fui abraçada, e é por isso que nesse dia, em que escrevo sobre abraços, quero exaltar o poder magnético de um abraço.
Dentro de um abraço há uma porção secreta de elixir da vida.
Há cura para a saudade impossível.
Há correspondência para todas as fragilidades humanas.
Há analgésico para as dores da alma.
Há saúde para o corpo cansado, adoecido, abatido.
Há vida para quem está desistindo de viver.
Há inclusão para quem se sente excluído.
Há vontade de ficar.
Há esperança para quem não vê saída.
Há coragem para as horas trágicas.
Há até breve e há adeus.
Eu penso que, se no leito de morte, nos sentirmos abraçados, ao nos desprendermos do derradeiro abraço, teremos coragem para invadir o invisível.
Há algo de Deus na mão que segura a nossa mão, no braço que nos abraça, e nos envolve, sem pressa, sem susto, sem medo, como se a eternidade tivesse chegado e fosse impossível nunca mais deixar de nos abraçar.
Dentro de um abraço cabe muita divindade, mas também cabe a humanidade que ama, que sofre, que chora, que se alegra, que comemora, que se perde e se acha, no exato momento em que o abraço sinaliza a direção.
Não é o beijo quem faz isso, é o abraço. Não é a relação sexual quem restaura a quebra de energia, é o abraço. Não há a exigência de ser abraçado por pessoas de sexo diferente, ou do mesmo sexo.
Dentro de um abraço não cabe homo ou hétero. O abraço é vibração de cura sem discriminação sexual. O abraço é tão divino que prescinde de orientação sexual.
Abraço é sinal verde para a saúde. Por falta de abraço as pessoas entram no modo espera e ali ficam, estagnadas e carentes, até adoecerem, e dali não saem, até que um abraço as resgate. Não um abraço molengo qualquer, mas AQUELE abraço.
Ontem, vi um filme um pouco antigo, que achei maravilhoso: “O encantador de cavalos”, interpretado pelo extraordinário Robert Redford. Talvez por isso, me senti impelida a escrever sobre o poder do abraço.
No filme, Robert faz um vaqueiro que tem a missão de aproximar uma mãe e uma filha, desconectadas pela falta de contato físico, no momento em que a menina se encontra bastante traumatizada por um acidente que a deixou com sequelas físicas e emocionais.
Mas ele também faz o mesmo com o cavalo que a menina montava no momento do acidente, e que em decorrência do trauma, se tornara um animal extremamente arredio e perigoso.
O filme distribui abraços. Abraços óbvios e não tão óbvios.
Abraços entre o vaqueiro e a menina.
Abraços entre a mãe e a menina.
Abraços entre o vaqueiro e o cavalo.
Abraços entre a menina e o cavalo.
E como não poderia deixar de ser, em se tratando da sétima arte: abraço entre o vaqueiro e a mãe da garota.
O filme é uma história de cura pelo abraço. E se até o cavalo se cura dos traumas e se revela uma criatura dócil, imagine o que o contato físico faz pelos seres humanos.
Então é isso: abrace e seja abraçado. Faça do abraço um ritual de extrema criatividade. Venha abraçando de longe, com os olhos, com o sorriso, com o corpo que se entrega. E ao chegar perto, não tenha pressa de fechar os olhos. Olhe diretamente, até o último momento em que o ser abraçado saia do seu campo de visão.
Nessa hora, feche os olhos, e… abrace.
Abrace com força, mas sem quebrar a costela.
Abrace com a força do sentimento. Embora os braços precisem da força, ela não pode ser maior do que a força do seu coração. Abrace com tudo o que um abraço significa para você.
E não tenha pressa de desabraçar.
Desabraçar é uma ciência, tanto quanto abraçar o é.
Desabrace lentamente, levemente, quase em slow motion.
E assim como o olhar foi o primeiro a abraçar, ele também deve ser o último a desabraçar.
É desse jeito que eu, você, e todas as pessoas, merecem ser abraçadas. Dispense abraços sem substância. Deseje, queira, e promova abraços de qualidade curativa infinita.
Se for para dar – ou receber – um abraço mal abraçado é melhor nem abraçar.
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Lindo, realmente lindo, sempre senti um poder imenso no abraço mas ainda mais no abraçar, ñ por duvidar da intenção ou sentimento vindo, mas por ter ctz do sentimento dado, acho que dar sem esperar receber é dos mais sabios dos pensamentos porque a reciproca de que fzr o bem te faz bem tb é mto real.
Parabéns o texto é mto bonito e fará as pessoas sentirem uma sensação muito parecida ao de um abraço, rs ???