Imagem de capa: Alejandro J. de Parga, Shutterstock
Sempre achei que relacionamentos abusivos eram uma grande lenda, que eram história de mulherzinha fraca e sem personalidade, até conhecer a força que essa “doença” tem. Nos conhecemos num momento feliz e tranquilo e eu a subestimei. Ela foi ganhando força e acabou por destruir tudo de lindo que vivi com ele. Ela foi mais forte que eu, mais potente que ele e muito mais firme que nosso amor. Ela veio devastadora e arrasou com tudo em poucos meses. Chegou de mansinho e de mãos dadas com a insegurança dele, se alinhou ao meu medo da rejeição e fez um grande estrago. Acabou por matar o amor, o respeito e a confiança. Ela é implacável. Cuidado! Se encontrar a possessividade por aí, corra sem olhar para trás.
Eu e o Thiago nos conhecemos e foi amor à primeira vista. Nos demos bem de cara e as coisas estavam caminhando tranquilamente. As afinidades bateram e os dias eram de harmonia. Ele era levemente ciumento, mas não chegava a ser um problema, eu até achava engraçadinho. Massageava o ego, sabe? Com o passar o tempo as coisas foram piorando, as ligações e mensagens aumentaram e eu já não sabia como agir. Estava amarrada numa teia enorme e não conseguia mais respirar sem medo. O ar faltava aos pulmões.
Ele criou uma prisão emocional que não me permitia viver nada além do que era razoável para o nosso relacionamento. Com a desculpa do amor incondicional ele anulou e escravizou minha personalidade e meus desejos. As gentilezas eram oportunistas e o cerco foi apertando. Ele tentava me enfraquecer a todo custo para que eu perdesse minha individualidade e fui me entregando sem forças para lutar contra. Ele alimentava meu medo e minha vulnerabilidade me tornando dependente dele. Era como uma droga.
Ele me perguntava, questionava e exigia explicações para qualquer coisa ou momento. Eu, com medo e tentando evitar conflitos, fui cedendo e dizendo sim para todas as exigências malucas que ele me impunha. Eu tentava apagar as diferenças e acabava criando muitas outras. Nada do que eu falasse ou mostrasse para ele eram suficientes para que confiasse e acreditasse no meu amor. Eu era obrigada a provar, dia após dia, que meu amor era verdadeiro e que não tinha outro homem na minha vida. Eu sentia que ele tinha se tornado meu dono e não mais meu companheiro. Não havia mais parceria, era apenas controle.
A possessividade dele foi me castrando e afastando tudo e todos de mim. Ele era rude com meus amigos e familiares. Chegava a fazer escândalos nos momentos de descontração sob o pretexto de que era sincero e falava as verdades. Ele alegava que dizia apenas o que sentia e que as pessoas deveriam respeitá-lo e admirá-lo por isso. Todos enxergaram a loucura em que eu vivia ao seu lado, exceto eu. Me alertaram, aconselharam, apoiaram e eu não tomava a atitude necessária. O que eu faria sem ele?
Sem perceber eu estava pedindo permissão para ligar para minhas amigas, para comer uma pizza com meus primos e até para trocar ou não de emprego. Tudo dependia de relatórios minuciosos e relatos detalhistas e na maioria vezes nada o satisfazia. Era impossível conquistar sua confiança e minha tão sonhada liberdade.
A castração era tamanha que eu já não sabia mais quem era ou o que queria. Eu vivia a cartilha que ele me impunha e fui me perdendo de mim mesma. Abandonei amigos, festas, sonhos, momentos, histórias e o amor próprio. Acreditei que não podia mais viver sem a coleira invisível que ele havia colocado em mim. Eu estava completamente perdida e confusa.
Aos poucos fui percebendo que não era mais feliz. Nem no relacionamento, nem no trabalho, nem em casa, nem com os amigos e muito menos sozinha, comigo mesma. Como eu tinha permitido que ele me controlasse tanto? Até meus pensamentos e ideias estavam caminhando de acordo com o que agradaria aquela possessividade maldita. Eu estava presa emocionalmente e precisava me libertar. Ele já tinha destruído o amor e evacuado meu coração. Não restava mais nada e eu precisava resgatar minha individualidade.
A possessividade é perigosa e não tem nenhum lado positivo. Não importa o ângulo ou a perspectiva. Ela castra e anula qualquer nuance de vida própria e é mortal. Não tem saída, ela não deixa escapatória ou brecha para o amor e a confiança.
Agora, livre e consciente do que ele fez, posso retomar minha vida e tentar restabelecer tudo que me foi tirado. Volto a ser eu mesma e jamais permitirei que alguém delete minha personalidade do HD interno. Com minha carta de alforria serei mais eu e menos ele. Estou livre, sou dona do meu destino e estou aberta para todas as possibilidades que ele me privou!
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Monika obrigada por esse texto
-- > GRATIDÃO <--
Eh tudo que passei..realmente quando me libertei dessa relação louka e doentia eu me percebi livre e isso eh maior qur qualquer relacionamento!!
Descreveu cada detalhe da minh vida !!
Bjus
Me liberte recentemente. Porém ele tem traços de sociopata e de Narciso Perverso.
Melhor coisa que fiz da minha vida.
Ainda tentou controlar quem eu add na minhas redes sociais até pouco tempo.
Cortei contato total. Manter contato zero e seguir a vida é a melhor coisa que eu fiz.
Me senti numa prisão e sendo manipulada até pra ele atingir outras mulheres. Mas consegui ver e descobrir coisas Tb e pulei fora quando ele começou a mostrar agressividade. Só faz mal. Não desejo pra ng uma relação dessas.
Hj eu voltei a viver e me sinto bem melhor.
Descreveu totalmente a minha vida, no início achamos "fofo" o ciúme, (sinal de amor, né? não!).
Até que vc é obrigada a dar satisfação de cada passo, seu ônibus não pode demorar 20min (pq 20min dá pra fazer muita coisa), se cuidar é sinal de estar querendo caçar "macho" na rua. E sem contar que tudo em vc fica feio, tudo é ruim, tudo é coisa de "vadia", comecei a ouvir que "eu arrumo outras pra vc aprender a me ouvir", hoje ainda estou nesse relacionamento em partes, vivo com ele, porém sem nenhum contato, pq ELE disse que não me quer mais pq não tenho relações com ele tds os dias (como ele disse que era p fazer a um tempo atras).
ainda peço forças pra superar td isso, e esses textos me ajudam mtttt
Da mesma forma que acontece com mulheres os homens também estão sujeitos a viver relacionamentos assim, passei pelo mesmo problema da entrega constante, dedicação excessiva e muita dor por não ser reconhecido pela dedicação implacavelmente. Abrimos mão do que há de mais sagrado em nós, nossa subjetividade, por vezes nos afastamos de pessoas realmente importantes para nossa vida, como familiares e amigos verdadeiros (que fazem parte da nossa constituição humana) para viver um relacionamento em que doamos todo o nosso ser e em troca recebemos dor e sofrimento. Por muitas vezes tive que ocultar a verdade para proteger a verdade da pessoa com quem me relacionava, para entenderem ela como um monstro, protegendo-a como também o nosso relacionamento. Relacionamentos assim são nocivos tóxicos e precisam ser encerrados por mais que exista o apego emocional e sexual, hoje estou focado em minha decisão e tenho fé em dias melhores, mantendo sempre o foco no bem maior para evitar qualquer tipo de recaída.
Tantas de nós passamos por isso... Deixamos ir nosso amor próprio e mergulhamos nesse lamaçal. É como se nunca mais fossemos encontrar tamanho amor. Toda a opressão ocorre sob o pretexto de que existe amor demais, amor tamanho para o qual não damos valor. E assim vamos nos deixando escravizar...