Imagem de capa: bedya, Shutterstock
Os meus avós, em tom de brincadeira e ao mesmo tempo com certa tristeza, muitas vezes me dizem que o amor dura menos nos tempos atuais. Triunfam os serviços a domicilio, ganha tudo que é instantâneo. Os investimentos que têm incertezas e demandam tempo causam medo.
De fato, os casais relativamente jovens que acumulam anos juntos são uma espécie em perigo de extinção. Os mais jovens dizem que antes de encontrar o amor para sempre é preciso ter vivido o amor por um tempo. O que os jovens não sabem é que à medida que ficamos mais velhos, acumulamos manias e tudo fica mais complicado para o cupido.
À medida que envelhecemos não apenas ganhamos rugas, mas também ganhamos arestas e perdemos paciência. Talvez ganhemos desta última com amores incondicionais, como pode ser a nossa família, mas a perdemos para aqueles amores que ainda não são e que demorarão para ser. Porque toda confiança precisa de espaço e carinho.
“O amor é o espaço e o tempo medidos pelo coração.”
-Marcel Proust-
A pouca atração das olheiras
Exceto pouquíssimas exceções, se um jovem deseja viver fora do domicilio familiar e enfrentar os gastos que demanda esse tipo de independência, as estatísticas dizem que precisará trabalhar muitas horas. Exceto em pouquíssimos trabalhos, o preço por hora é baixo, os aluguéis elevados, a eletricidade e o gás um luxo, e as férias, férias?
Isto faz as preocupações crescerem, as horas de sono minguarem, e gastamos o tempo que temos para os relacionamentos com mensagens concentradas de voz e letras através do telefone. Isto pode valer a pena por um certo tempo, o mesmo que dura a inércia inicial, até que duas pessoas se levantam da mesma cama assim como fariam dois desconhecidos. Com a mesma esperança, com o mesmo desapego.
Vivemos mais anos, mas somos atraentes durante menos anos. Contamos com botox, mas não encontramos a alegria. Essa que produz sorrisos e que alimenta a generosidade. Passamos uma imagem na rede e convivemos com outra diferente, porque se fôssemos sinceros, deveríamos reconhecer que quando colocamos um gesto na foto já estávamos enganando.
O amor em tempos difíceis
Então, o amor precisa fazer um exercício de sobrevivência, porque não é alheio a este ritmo de vida que nosso entorno impõe. Sofre com os novos canais de comunicação porque um “amo você com emoticons” nunca será a mesma coisa que um de palavras com um belo ramalhete de rosas e um olhar. Um passeio pelo parque com frutos secos e esperanças nunca será a mesma coisa que um jantar por Skype torcendo para o sinal não falhar.
Se os meios com os quais cuidamos do amor são muito piores, é normal que o amor agora seja mais frágil, que resista menos e que seja mais massacrado.
Nos rendemos antes porque supomos que o outro também pode fazer o mesmo. Vamos fazendo as malas antes de cortar o relacionamento porque não nos sobram os recursos para continuar depositando-os em uma promessa improvável. Somos conscientes, mais do que nunca, da mortalidade do amor e das consequências do seu fracasso.
Não nos damos a oportunidade de experimentá-lo porque não podemos permitir que nossa rotina desabe um dia caso ele falhe. Uma coisa que nos afeta tanto, quando temos muitas coisas que já nos afetam pouco, não é aceitável.
A realidade já é bastante instável para confiar que um desconhecido atraente possa ter pintas no seu corpo que um dia iremos saber de cor.
Então, amar hoje em dia é complicado. Os obstáculos são muito maiores que antes, por mais que os amantes não pudessem se ver sozinhos ou por mais que as caricias em público fossem motivo de censura. Então, matamos um monstro para criar outro muito mais poderoso e que dá mais medo ainda. Dessa forma, talvez tenhamos evoluído em muitos aspectos, mas o fato é que os tempos modernos são tempos mais revoltos do que nunca para o amor.
Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa
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