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Apaixonar-se é um risco de aprisionamento dos sentidos, mas pode ser também uma libertação necessária para se atingir a plenitude do ser e do estar.
O dicionário define paixão como algo que possui a capacidade de alterar o comportamento, o pensamento do indivíduo. Este pode ser demonstrado de forma extrema (incluindo sexualmente). É um entusiasmo que parece intangível em palavras. Já para a Psicologia, paixão é uma vivência complexa por alguém, objeto ou objetivo e que acontece independente da vontade dela e contra ela mesma. Todavia, mesmo podendo ser duradoura, a paixão não é perene – não dura para sempre. Mas por quê?
Renato Russo e Dado Villa-Lobos disseram, em Será: “Tire suas mãos de mim que eu não pertenço a você. Não é me dominando assim que você vai me entender. Eu posso estar sozinho, mas eu sei muito bem onde estou. Você pode até duvidar…acho que isso não é amor”. O canto elevado na primeira estrofe da canção, da Legião Urbana, pode ser encarado, também, com uma síntese desse aprisionamento que liberta a paixão. Apaixonar-se pode muitas vezes dar a impressão de posse, mas não somente sobre o outro. De certa forma, a posse é do nosso próprio espírito, gestos e pensamentos, estando fora de controle, como proceder? Como intercalar a razão e o sentimento pulsante e, muitas vezes, agridoce?
No passado, apaixonar-se era tema recorrente no cinema como o resultado do amar. Os casais narrados nas mais belas e emocionantes estórias de amor atravessam dificuldades para sacramentar o seu desejo apaixonante de estarem juntos. Com o tempo, tal estigma fora corrompido aos poucos, e hoje, estar apaixonado é apenas o início, a fagulha daquilo que conhecemos como amor. Mas até mesmo o amor ainda é indecifrável, então, como reconhecer plenamente a diferença entre estar apaixonado e estar amando? Sentimentos confundem-se, assim como o entrelaçar de mãos, braços e corpos, quando buscam o afago prazeroso de estar em contato com outra mente, com outro coração.
Ainda assim, existe quem prefira renegar qualquer tipo de sensação semelhante à paixão. Alguns imaginam poder dosar o carinho conduzido pelo coração, e isso pode ser estabelecido pelas mais variadas escolhas de gestos e de palavras por cada um. Românticos incuráveis rebatem dizendo ser medo que o outro tem de perder a sanidade sentimental e oblíqua das coisas. O medo é presente até mesmo quando se assume estar apaixonado. Porque é difícil respirar, manter o foco ou contabilizar nuvens diante dos olhos. Por vezes, o estar é tão precioso, que se esquece de, mesmo manipulando palavras, todo e qualquer sentimento ainda são meramente explicados de forma empírica. Não há sequer uma teoria, na qual possamos definir com precisão os nuances da paixão, do amor, do medo, do ódio e de outras condições comportamentais do ser.
Nesta altura, a pergunta permanece a mesma: para que serve se apaixonar? Para fugir do controle, possuir o outro descontroladamente? Para sofrer quando o entusiasmo não é correspondido? Para delinear vivências e conhecer os limites de si próprio? Talvez fosse para ativar o gatilho anestesiante da cumplicidade em unir afinidades e corações numa mesma estrada? Paixão avassaladora. Paixão descomunal. Paixão como princípio do amor. Mas para que diabos se apaixonar?
A verdade momentânea pode ser uma, como também podem ser várias, mas se apaixonar não é a resposta e também não é pergunta. De repente, ambas devessem ser afirmativas, pois ser e estar apaixonado por algo ou alguém é um movimento, ainda que quase impossível de controlar.
“E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto”; Moska.
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