Categories: Ana Macarini

Para abraçar uma nova vida a gente precisa se desgarrar da velha

Imagem de capa: AstroStar, Shutterstock

Atire a primeira foto rasgada quem nunca teve dificuldades em se despedir de um amor que já tinha dado tudo o que tinha que dar. Dê uma “sambadinha” aí na cara dos mais sensíveis, quem nunca se comoveu no final de seus próprios enredos. Levante a mão, sem hesitar, quem nunca teve receio de se mostrar com medo de ser julgado.

Assim somos nós, seres humanos em infinitos processos de transição, oscilando entre a suposta paz das situações estáveis e o fogo no peito das arrebatadoras paixões inesperadas. É na hora do sufoco que a gente se dá conta do tamanho do fôlego que tem. É na hora do aperto que a gente mede a capacidade de se moldar a novos espaços ou de alargar novas possibilidades.

Sentadinho na sombra é que não dá para viver, certo? Mais cedo ou mais tarde, essa aparente moleza cobrará de nós o despreparo para enfrentar demandas ou, por que não dizer, aguentar o tranco.

O corpo humano é uma estrutura cheia de encaixes, protuberâncias e reentrâncias, projetado para se mexer. A falta de movimento, seja do ponto de vista orgânico ou filosófico, traz como sequela a falta de recursos para abraçar oportunidades, escapar das anunciadas ciladas ou desviar das pedradas gratuitas.

O perigo maior é a gente acabar feito aquelas plantas ornamentais que vivem grudadas em outras, nem tão bonitas, mas cuja anatomia projeta raízes em busca de substrato e “braços” para o alto em busca da ilimitada capacidade de florescer, frutificar ou folhear o ambiente com suas protetoras e afáveis estruturas.

Uma vez assumida essa postura de enfeite e dependência, fica notavelmente mais difícil romper com a preguiça de arcar com os próprios sonhos, com as próprias necessidades e habilidades de fazer a diferença e o diferente.

As descobertas mais incríveis moram no peito de gente destemida, persistente e inconformada. É a não aceitação das imposições que fazem a gente enxergar além do óbvio e ver saídas onde antes só éramos capazes de vislumbrar portas fechadas e ruas sem saída.

Para abraçar uma vida nova a gente precisa se desgarrar da velha. Fazer uma malinha para os desenganos, as limitações e os comodismos, levá-los com todo amor à estação de embarque e acenar de longe até vê-los ganhar outros caminhos. Deixá-los ir.

E assim que a despedida se consumar, dar meia volta no sentido oposto e perder o interesse de olhar para trás. Talvez, bem ali ao nosso lado, logo à frente ou lá no alto, haja alguma missão inteiramente disponível à espera de alguém com coragem e disposição.

Um passo depois do outro, e quem sabe no meio de uma dança, a gente não acabe descobrindo que só o que nos faltava era mudar a música, e ouvi-la, e permitir que ela nos conduza àquele lugar que antes era um sonho, e agora é a nossa própria razão de viver.

Ana Macarini

"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

View Comments

Share
Published by
Ana Macarini

Recent Posts

Como Gerenciar as Emoções em Momentos de Muito Estresse no Trabalho

O estresse no ambiente de trabalho é uma realidade cada vez mais comum. As exigências…

18 horas ago

Sobrevivendo ao abuso: como o EMDR transformou sua vida

"Foi então que uma amiga me recomendou o EMDR..."

3 semanas ago

A arte do day trading: quando cada segundo conta

O day trading é uma das formas mais dinâmicas e fascinantes de investimento, mas também…

3 semanas ago

EMDR: a abordagem psicoterápica adotada por famosos e que pode mudar a sua vida

Saiba mais sobre essa abordagem psicoterápica EMDR, prática reconhecida pela OMS e acessível também através…

4 semanas ago

Um dos romances mais amados de todos os tempos acaba de chegar à Netflix

Jane Austen, mestra em retratar as complexidades das relações humanas e as pressões sociais do…

4 semanas ago