Imagem de capa: Ruslan Ivantsov, Shutterstock
Esses dias eu vi pelo reflexo no vidro do carro você me espiando, eu fingia que não via. Te peguei me devorando com os olhos, não como canta Djavan, não, você me despia a alma e eu achei até bonitinho. Foi como quando depois do sexo te flagrei me observando, linda e nua com os olhos suados como você insiste em dizer, eu quis saber o que você estava pensando. Segui viagem, desta vez não quis perguntar. De uns tempos pra cá eu aceitei me livrar do controle de algumas coisas em minha vida e a perspectiva do nosso futuro está entre elas. Isso me deixou mais brando.
Tenho convivido outra vez com a insônia, as madrugadas tem sido recheadas de trabalho e eu até senti falta do seu telefonema lá pelas duas dizendo que não conseguia dormir sem que eu estivesse na cama. Fomos nos afastando de nós, não cada um pra um lado, mas, como quem até vai junto pensando só um mais pouco em si. Você fez planos pra semana toda, tá lendo outros autores, vendo suas séries, eu, juntando a mudança, escrevendo meu livro do qual você vai aos poucos perdendo o protagonismo.
Eu percebi que te chamar de minha e ouvir um “sou sua” é puramente figurativo e até faria falta se não fosse assim cada vez que te agarro pelos cabelos e vejo suas costas arrepiarem, ali na cama, preciso de posse, controle, só ali. Na vida não, na vida te quero ver livre, quero abrir as portas, quero te deixar ir e sentir o coração aquecer cada vez que você volta. É como quando a gente sai pra passear de mãos dadas e se solta pra desviar um poste e depois agarra um ao outro e sorri, quero repetir essa sensação muitas vezes.
Percebi que não preciso de você pra mim, preciso de você comigo, preciso te ver chegando, abrindo a porta e trazendo coisas para eu cozinhar sem ter perguntado se vou jogar pôquer ou sair pra correr. Você se pertence, se basta e eu te amo por isso. Quero te ver deixando as suas coisas pelo armário, nem muito pra se arrepender, nem pouco pra fazer falta. Eu sei que às vezes eu me pego sonhando e te falo um monte dessas bobagens sobre fugir, largar tudo, pegar a mochila e avisar a família que talvez a gente nem volte. Deixar essa vida de gente grande e sair pelo mundo sem nem ter a responsabilidade e a dor de ter que dizer tchau. Eu ainda tenho essa sede de vida que se sustenta num hiato silencioso, seguido do medo de que a vida acabe e a gente tenha vivido pouco, não tenhamos nos casado e meus filhos não tenham esses seus olhos de cigana oblíqua e dissimulada.
Não repare o desassossego, é só o jeito desajeitado de quem tem um coração andante carregado de histórias. Sei que num poste destes vou soltar sua mão e talvez você não volte, ou, talvez seja eu quem pare pra apreciar a paisagem e te deixe seguir. Ter você não é uma questão de posse, é o sossego de ter pra onde ir, é a paz de ser morada. É chegado o outono e o futuro ainda é terra incerta pra se cultivar, mas, solta o peso das costas e se aconchega aqui, aproveita o restinho de verão comigo, acampados nessa paz que a gente construiu. Não carece mais nada, um pouco de sol entrando pela janela e um sorriso pra começar o dia. Não te quero pra mim, te quero comigo.
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