Categories: Jéssica Pellegrini

Encontre alguém que, entre as idas e vindas da vida, prefira ficar.

Imagem de capa: Jacob Lund, Shutterstock

Aprenda a dar a sua ausência, para quem não valoriza a sua presença.

Desde quando eu era pequena e comecei a escutar alguns comentários sobre o amor, apesar da pouca absorção de informações, sempre foi fácil perceber que isso era coisa de gente grande. Não estou me referindo à idade ou tamanho mas, sim, a exigência que esse sentimento requer para que ele possa acontecer: exatamente como nos filmes de romances, desenhos animados com reinos encantados, ou algo muito perto disso que eu não estou conseguindo descrever.

O tempo foi passando, e eu sempre fui curiosa em saber mais sobre ele. Dentro de mim, existe uma força maior que sempre esteve ao meu lado, me apoiando e incentivando para o que fosse preciso. Sendo sincera, eu tenho medo. Pelo pouco que eu aprendi sobre essa palavra, eu consigo ter a certeza que ela causa muitos outros significados que não estão inseridos no dicionário.

Ao contrário do que parece, eu não quero me tornar um mestre em amar. Só quero compreender, de corpo e alma, o quanto esse verbo é capaz de influenciar os corações alheios. Longe das ideologias intimadas pela sociedade, o amor é livre. Não existe uma definição de cor, gênero, número ou grau. Ele acontece, como um imprevisto gostoso em plena segunda-feira após um feriado na praia. Não existe o lugar certo, a pessoa ideal ou gostos completamente iguais. Vocês não precisam ser parecidos, adorar as mesmas coisas ou terem algum tipo de afinidade. O amor pode ser diferente, acredite.

Não importa se você gosta de cerveja, e a pessoa não curte bebidas alcóolicas. Nem tão pouco, se você prefere inverno, e ela verão. Cidade grande ou interior. Café com leite ou milk shake. Também não importa se você faz medicina, e ela direito. Se você mora em São Paulo, e ela em Salvador. Se você prefere vermelho, e ela verde. Se você ama carne, e ela é vegetariana. O amor sempre vai ser uma incógnita, com intenção de nos mostrar o quanto ele é capaz de mudar e rever conceitos. Você é feliz? Que bom, continue sendo.

Agora eu entendi que essa loucura chamada de amor, chega de repente e quando menos esperamos, nos tornamos submissos. Não temos escolha, ele acontece como uma dádiva. Amamos os defeitos e os erros. Aceite, você vai se tornar um refém da paixão. Existe algo mais gratificante do que dormir sorrindo e acordar ainda sonhando? É como viver no mundo da lua, sentir os nervos tremerem, suar frio, acelerar os batimentos cardíacos e olhar fundo com um pouco mais de convicção. Uma prisão sem grade, que ainda assim, a liberdade não é a preferência. Você pode voar, mas prefere pousar. Pode seguir, mas não consegue partir.

Como tudo na vida, ele também possui um lado ruim. Mas sabe, as questões negativas são consequência de pessoas imprudentes. O amor é banalizado por alguns, citado de forma imprópria por outros. Ele é usado de maneira indevida, tentando remover toxinas. O amor não é a causa dos seus problemas, ao contrário, ele é a solução de todos eles. Quando verdadeiro, ele colore todo um mundo de cinzas. Coloca emoção em tanta razão. Se mostra como uma saída, escapatória, como uma luz ou fonte pura de energia. Ele é o resultado da química, física, história, geografia ou matemática. Sinta-se privilegiado, ele apenas se apresenta para poucos.

Não vou negar, o amor já me proporcionou muitos momentos e sensações inesquecíveis. Eu já superei limites pessoais, revi as prioridades, consertei besteiras, caí e levantei e me tornei alguém melhor. Mas também, é inegável que eu já chorei muito, e sangrei mais ainda. Me entreguei e me ferrei. Ofereci o melhor de mim, e não fui retribuída. Doei e não obtive reconhecimento. Mudei e não recebi positivos feedbacks. Lutei e perdi a batalha. Abri mão, e de nada adiantou. Cedi em discussões, mas não acabaram as brigas. Pedi desculpas, quando a culpa não era minha. Respirei muito fundo, me controlei em situações extremas e perdoei traições que eu não merecia. Sou uma mistura de traumas, anseios e aflições.

Eu sou aquele coração vermelho que pensa duas ou mais vezes, antes de bater um pouco mais forte. Sou aqueles olhos marejados, que eu não te enviei por mensagem. Sou aquele “eu te amo” reprimido, que só escapa após alguns copos de bebida. Agora, eu sou aqueles três passos para o lado, quando você quer acelerar a caminhada pela frente. Eu sou aquele receio, quando você diz não parar de pensar em mim. Sou o botão de desligar, quando aquela música me faz lembrar de você. Eu sou aquela calma, em toda a sua ansiedade. Sou o freio novo, enquanto você me pede em casamento. Sou a saudade, ao invés de querer te ver todos os dias. Eu sou a lentidão, em toda a sua pressa. E o que você mais precisa, para ser feliz. Eu sei que sou…

De vez em quando, penso na minha vida e desejo não ter escutado sobre o amor tão cedo, quando eu ainda era imatura e ingênua. Eu realmente não queria ter dedicado boa parte do meu tempo, em uma monografia com conclusões incertas. Eu tenho sequelas incuráveis, carrego comigo uma dor que palavras não descrevem. Perdi as esperanças, a crença no ser humano e toda aquela coragem que o amor exige, nos dias de hoje, para acontecer. Sim, amar se tornou coisa de gente corajosa.

E a única coisa que eu posso afirmar, é que eu amei certo, as pessoas erradas.

E agora, eu sigo com um anseio absurdo de encontrar alguém que transforme em saudável, um relacionamento temporário como os que encontramos em cada esquina. Entenda, eu não quero ser mais uma, eu não sou mais uma boca, um beijo, um abraço ou uma emergência no meio da noite. Eu não sou apenas a aparência exata da sua idealização. Estou realmente disposta a ser tudo o que você também procura, mas antes, me prove que vale a pena apostar em você por toda uma vida. Sem garantias, eu prefiro continuar no abismo que já estou.

Se não for para somar, não me diminua.

Eu sei, sou diferente de todo mundo que você já conheceu…

Então, se você não estiver disposto em parecer um idiota, não se apaixone por mim.

Eu gosto do estrago.

Jéssica Pellegrini

Nunca confie em uma escritora confusa e romântica. As controversas entre um texto de amor e outro de desilusão, podem causar questionamentos pessoais. Consequentemente, sequelas mais graves.

View Comments

  • Minha opinião é que incompatibilidades atrapalham muito sim, mas não tornam impossível levar um relacionamento. Mas, muitas coisas em comum não são garantia de sucesso.
    O que acontece hoje em dia que atrapalha muito, é que as pessoas criam expectativas muito altas, ou seja, o relacionamento tem que ser igual àquele filme romântico senão não serve, tem que ter a mesma intensidade, senão algo está errado.
    E não funciona assim.
    Dias difíceis surgirão, dias monótonos, a rotina faz isso.
    E isso acontece junto com o egoísmo: eu tenho que ser satisfeito. Eu isso, eu aquilo, eu...
    Depois da frustração vem o terceiro problema, cultura do descartável.
    Não deu certo, troca. Quebrou, troca. Não perca tempo tentando consertar.
    É claro que não devemos dar "murro em ponta de faca", mas os relacionamentos tornaram-se descartáveis.
    E pasmem, você pode encontrar os mesmos defeitos do(a) ex no(a) atual.
    Pode encontrar não os mesmos, mas outros tão ruins ou piores quanto.

  • Se as pessoas fossem menos levianas nas relações talvez o "amor" (palavra tão banalizada que se torna vazia de significado) não causasse tanto sofrimento. Não, não sou amarga, apenas aprendi a ver a vida como ela é (em alusão à Nelson Rodrigues), sem o véu das ilusões.

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Jéssica Pellegrini

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