Imagem de capa: Lana K, Shutterstock
Talvez fosse melhor ela desistir dessa vontade maluca de alguém se apaixonar por ela através da sua alma escrita e não pelas curvas do seu corpo. Ela queria ser reconhecida pelo que fazia e não pelo que aparentava, pois desejava que a pessoa visse seu coração antes do seu sorriso, já que o seu lado bonito estava preso dentro do peito e nada do que estava fora era capaz de mostrar tamanha beleza.
E quase ninguém percebia logo ela que era linda a sua maneira por mais que não acreditasse muito nisso, pois apenas achava que tinha um leve frescor em seus modos de falar sobre suas emoções, mas nada digno de nota já que nessa sociedade uma pequena parcela dar algum valor a sentimentos, ainda mais os sinceros que beiram o drama, pois sabia que o mundo admirava um corpo escultural de acordo com os estereótipos que algum idiota estipulou. Então ela não tinha chance de brilhar porque as pessoas a deixaram em completa escuridão.
Mas quando conseguia deixar a timidez de lado e se abrir para deixar a luz entrar, ou melhor, deixar a sua luz própria sair, era algo incrível de se ver. Seus olhos marejavam quando era notada da forma que gostaria de ser percebida, alguém vinha e elogiava seus escritos, ela ajudava a pessoa a lidar com algum problema se fosse requisitada, então se sentia bem, se via como a mulher mais linda dessa Terra não importando se esse título pertence a alguém magra com quase dois metros de altura.
Porque quando alguém se aventurava a se jogar no abismo do seu ser e afundar nas profundas do seu intimido, indo percorrer os labirintos da sua mente confusa, se perdendo, afogando, correndo, chegando quase a exaustão, ela lhe dava a mão e abria os braços ao contar um pouco mais sobre si mesma. Deixava a pessoa ver aquelas partes que ninguém sabia que existia, ria ao contar seus medos, chorava com lembranças felizes, abraçava com palavras doces, calmas e conciliadoras, pois aquele era seu momento quando alguém a encontrava no seu verdadeiro lar.
Onde não havia máscaras, receios, quer dizer, talvez só um pouquinho, e conseguia se sentir livre, até tirava a maquiagem, vestia sua blusa de algodão com furinhos, calçava seus chinelos com estampa de pequenos corações coloridos, e se permitia ser quem era da forma mais simples e pura. E quem fosse corajoso o bastante poderia vê-la assim no seu habitat natural, toda á vontade com um livro na mão, fone nos ouvidos, jogada na cama e pernas balançando no ar.
Era bom ser quem era, sem medo de julgamentos, sem raiva de si mesma, apenas se deixava ser e pronto. Ali, naquele mundo particular aquecido com seu próprio Sol, não havia problemas com seu peso e nem de ser uma solteira desde que nasceu. Ela sorria alto até a barriga doer, pensava em personagens, falava com Deus abertamente, imaginava o enredo dos livros que pretendia escrever, lamentava o que passou e se arrependida por não ter feito muitas coisas. E ela era dela, só dela.
Queria mais dias assim, mais meses e anos assim de total liberdade, mas a vida cobrava seu outro lado, aquele mais sério, afundado nos estudos, sem humor amargo, pensando em dietas e exercícios físicos, imaginando quem seria o homem dos seus sonhos e se ele já estava perto de chegar, e ás vezes, ainda deixava Deus em último lugar ou Ele sequer era posto em algum plano. Triste ser quem os outros querem que ela seja, mas se não fizesse isso acabaria nas sombras e sucumbiria por falta de oxigênio.
Então tirava um tempo no meio da loucura para expressar coisas bobas que ninguém iria se importar, mas desejava que alguém se importasse por mais que escrevesse para si e não para os outros. Ela dizia o que pensava, o que lhe acontecia e seus dedos corriam como se dependessem disso para continuarem funcionando senão atrofiariam. Mas era sempre um ato libertador dentro da prisão que lhe dada e ela aceitou de aparente bom grado.
Até quando continuaria dessa forma? Será que aguentaria mais tempo vivendo uma farsa? Sendo uma mentirosa? Porque ao omitir essa sua parte do mundo se sentia a pior pessoa e a mais odiosa, queria se perdoar por isso, mas não conseguia porque achava que estava agindo errado. Porém, a culpa nem era tanto dela, apesar dela ser uma covarde, mas enquanto os outros não dão espaço para ela respirar ela cria sua própria atmosfera e dela tira sua sobrevivência.
E ela nem quer tanta coisa, mas apenas que a valorizem por ser quem é, que ninguém queira muda-la. Certo que precisa de alguns ajustes, porém não necessita de uma total transformação, pois está feliz em ser feita de palavras, ela ama ser cheia de letras, vírgulas e reticencias. Ela adorava acordar e passar o dia pensando em pessoas que não existem fora do papel, só queria que essa sociedade do espetáculo fosse mais coração e menos olhos, sabe? Mas enquanto isso ela vai vivendo como pode, seja em sombras ou ofuscada por uma luz esquisita, porém vai indo e espera encontrar pelo caminho quem a amará por suas letras meio tortas.
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