Imagem de capa: Khomenko Maryna, Shutterstock
Ela estava ali de peito aberto olhando para os lados esperando que alguém se aproximasse, mas não via ninguém interessado em suas emoções que beiravam aquilo que chamam de drama. Ela estava vulnerável deixando que quem quisesse ver seu verdadeiro eu que por anos ficou enclausurado numa caixa de plástico verde.
Mostrou que seu sorriso era na verdade uma forma de esconder a tristeza, que seus olhos choravam e escondia o inchaço com rímel e lápis, pois seu coração já fora machucado e tratado como um pedaço velho de uma roupa que já foi favorita, mas que agora não passava de lixo.
Queria que eles vissem que ela já havia se apaixonado várias vezes, por mais que nunca tivesse tido a coragem de se entregar, e seu tipo era branco quase pálido, cabelo preto, barba emoldurando o rosto, olhos castanhos, sorriso que dá vontade de viver mais cem anos e uma alma que ama música triste, literatura medieval e olhar para o céu noturno.
Mas outro ponto sobre isso é que ela sempre quis sozinha, nunca ninguém quis algo juntamente com ela, e até hoje não é possível haver relações quando apenas uma parte ama e a outra só ignora o fato. A pobre menina já lutou tanto por pessoas que ela sabia que nunca iriam querê-la de volta, as ilusões são inumeráveis, inesgotáveis.
E ela ainda insisti em deixar o peito aberto para quem quiser ver seu lado mais feio, mais chato, mais esquisito, mais depressivo. Como se alguém fosse capaz de ama-la por seus defeitos, como se alguém conseguisse se apaixonar através de suas dúvidas, medos e paranoias de perseguição.
O problema é que ela acha que se a pessoa é capaz de tolerar sua parte ruim, com certeza irá amar sua parte paraíso intocado que ainda aguarda seu descobrimento. Mas o tipo que ela mais se atrai, aquele rapazinho inteligente, com opinião própria e senso critico, que tem fé em Deus e tenta viver de acordo com seus propósitos, pode nunca nota-la já que ela acha que não faz o tipo de ninguém.
Já pensou em emagrecer, tirar seus óculos e usar lentes de contato, cortar o cabelo e deixa-lo voltar ao cacheado natural, usar roupas mais alegres e que marquem as curvas de seu corpo, deixar os livros de lado e ir para uma academia, sair mais de casa e dá um tempo nos filmes.
Porque se ela continuar se escondendo ninguém irá acha-la, o menino barbudo irá passar longe e talvez nunca irá encontra-la, e mesmo se encontrasse que chance teria dele olha-la e perceber que ela é tudo que estava procurando? Há um talvez, um quem sabe, uma ironia do destino, um amor impossível.
Ela meio que cansou de ser tão só, acha que já chegou a hora de compartilhar sua vida com alguém, não quer ir mais ao cinema sozinha, fazer compras sozinha, assistir sua série favorita sozinha. Ela quer alguém para falar sobre seus personagens dos livros que escreve, para discutir os problemas do mundo e buscar as soluções. Alguém para falar de Deus e a forma que a fé muda a vida das pessoas, como isso é tão importante e real mesmo que a maioria seja incrédula e dura de coração.
Ela só quer se sentir completa, mas sabe que sozinha sempre faltará uma parte que não poderá encher de si mesma. E ela chora, e ela ora, e ela pede, e ela clama. Saí por aí admirando de longe os meninos barbudos de pele pálida que amam usar preto, há tantos, mas ela só quer um que seja dela, só dela.
O grande problema mesmo é sua impaciência, sua incapacidade de esperar o tempo certo, e é justamente por isso que já se machucou tanto porque em vez de aguardar ela pulou no abismo. Já se quebrou tanto e parece que não aprendeu a lição de que somente Deus irá dar a palavra final, pois é Aquele que diz o momento certo para acontecer.
Respire fundo. Ore. Ore mais um pouco. Só mais um pouquinho. Chore. Se arrependa. Você vai conseguir, vai sim, claro que vai, ele vai chegar, qualquer dia desses, vai sim, mantenha a calma, tenha fé e paciência, saiba confiar no Pai que irá te dar o melhor.
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