Imagem de capa: Maksim Shirkov, Shutterstock
Em parceria com Guilherme Moreira Jr.
Acabara de recolher alguns pedaços jogados pela sala. Alguns no jardim, na área de serviço e até na estação de trem. Já não era um absurdo encontrar pedaços, incontáveis pedaços, do meu coração pelos caminhos que percorri.
Fragmentos não de quem perdeu, mas de quem foi vencido pelo cansaço. Do outro lado, silêncio. Gestos mudos vindos de você que ficou estendido enquanto oferecia a minha mão, o meu coração. Por quê? Éramos inteiros.
Mas há muito não éramos. Talvez algumas partes foram recolocadas em discordância com as outras. Algumas não foram mais achadas. E eu, aqui, guardando para mim o que apesar de ser meu, não parecia mais comigo.
E isso não está certo, porque inteiros se tranquilizam. Permitem-se estarem sem aparências. Não existe essa coisa de fingir ser aquilo que não é. Mas você não quis entender. Talvez o tempo tenha nos pregado uma peça. E eu aqui, catando os cacos da preguiça do seu coração.
Talvez, se formos lá fora, conseguiremos encontrar algumas partes no container. Se tivermos sorte, ele não foi recolhido ainda. Mas não deveria ser assim, mesmo com o fim, enfim, deveríamos ser inteiros. Ou com o fim de nós, o recomeço com outro. E mesmo assim, inteiro. Permitindo o outra vez, a quem, por acaso ou destino cuidaria melhor de nós.
Mas tudo bem. Mesmo que as partes não possam ser reconstruídas, o importante é que saiba que amei. O sentimento era legítimo e o carinho pleno. Que a vida traga novos sorrisos. Enquanto isso, olho fixamente os pedaços pelo chão e os recolho com cuidado. São frágeis, mas vai saber, talvez mais adiante eu encontre alguém que esteja fazendo o mesmo.
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