A única coisa que muda na vida é a mudança

Imagem de capa: Nataliia Zhekova, Shutterstock

Quanto você está disposto a arriscar para fazer da vida algo verdadeiramente novo? Essa resposta determina o lugar em que você estará no futuro. Se você não estiver disposto a arriscar nada, o futuro te encontrará no mesmo lugar em que o presente te encontra hoje.

Não há outra maneira de mudar, senão aceitando o risco da mudança. Eu sei disso e você sabe. Mas escrever e ler sobre isso não muda absolutamente nada. A única coisa que muda a vida é a mudança. A mudança pede atitude de quem percebe a oportunidade de virada, encara o desafio, e faz o que precisa ser feito, correndo os riscos que nela estão embutidos, mesmo sabendo que pode, eventualmente, quebrar a cara. Ou não.

Essa incerteza só se transforma em certeza quando pagamos para ver, mas muita gente prefere se manter na ignorância, e lá na frente, no meio das suas histórias de vida, relembrar “daquela vez” que teve a chance de fazer algo revolucionário e optou por não fazer absolutamente nada.

Por que é tão difícil mudar mesmo quando não estamos satisfeitos com a nossa trajetória?

Porque sabemos que a mudança, por pequena que seja, em alguma medida, não tem volta. Nenhum relacionamento, profissional ou sentimental, ficará aberto, aguardando a volta daquele que decidiu experimentar a mudança. No momento em que se tira o pé de um terreno, fica um espaço que será imediatamente preenchido por alguém que estava de olho naquilo que era seu.

Você entrega, ele pega. Você abre a mão, ele fecha em torno daquilo que te pertencia. Você desiste, ele decide tentar. E ai, acabou-se o que era doce. Ou amargo. Melhor nem olhar para trás e seguir em frente, de maneira estoica e resoluta porque se titubear, e quiser voltar, será apenas para descobrir que não tem volta.

A vida tem uma engrenagem própria que depende de nós para ser colocada em movimento, mas, uma vez que o movimento tenha sido deflagrado, as consequências são automáticas porque envolvem todo o conjunto de possibilidades humanas à nossa volta.

Ninguém consegue ser alguém sozinho. Cada cargo, cada função, cada prerrogativa, cada papel que desempenhamos relacionam-se indiretamente com outras pessoas, com outras instituições, que se introduzem na história segundo as suas conveniências, e por causa disso, a partir do primeiro momento da nossa mudança, podemos esperar uma reação em cadeia que fecha o espaço que ocupávamos de forma irreversível.

No entanto, sem sombra de dúvidas, essa é a vida em plenitude. Vida é risco. Não um risco bobo, mas calculado, inteligente, cheio de planos, de projetos, de tensões que nos impulsionam para a frente, e que nos mantém vivos e não apenas sobreviventes.

Conversando com um amigo médico, ele me disse que, de acordo com uma dessas pesquisas sobre saúde mental, para manter-se saudável o indivíduo precisa deflagrar pequenas iniciativas ao longo da vida, mesmo que elas não pareçam desejadas.

Muitas vezes entramos num círculo vicioso, numa vida acostumada que não nos faz felizes, mas nos imobiliza, por absoluta falta de vontade de tentar algo novo.

Se estamos de férias, vamos sempre à mesma praia. Se frequentamos um restaurante, pedimos sempre o mesmo prato. Se trocamos de carro, adquirimos o mais novo, da mesma marca. Se fazemos um programa de domingo, escolhemos o circuito que tão bem conhecemos e optamos pelas mesmas tarefas que já nos fizeram tão bem, mas que hoje são apenas banais.

E assim, a vida fica engessada em torno de escolhas que, há muitos anos, nos trouxeram alegrias novas, mas hoje se configuram de maneira automática, sem o brilho da novidade de vida.

Nessa hora, a pesquisa mostra, é preciso inovar nas pequenas coisas. Apenas uma pequena mudança de rumo, já é suficiente para arejar e trazer um pouco de frescor a uma rotina embolorada por atitudes velhas.

Thoreau foi um filósofo americano que combatia com ousadia todas as vidas mornas. É dele esta frase: “ É só quando esquecemos todos os nossos conhecimentos que começamos a saber.”

Esquecer os nossos conhecimentos envolve coisas tão simples como desistir do macarrão chinês que você come há mil e oitocentos anos, sempre que vai ao mesmo restaurante, e pedir um prato diferente, em outro restaurante chinês que você nunca frequentou.

Ou deixar de jogar futebol na tarde de sábado para pescar com aquele amigo que te convida sempre, e você nunca aceita. Vai que você gosta. Vai que a paz em torno do riacho te seduz. Vai que pescar seja a sua praia, e você nunca soube. Sem tentar, você nunca saberá.

Entre mudanças radicais e mudanças sutis, fique com aquelas que não te aleijam, que não te matam, que não te paralisam.

Se você tem medo, pavor, desespero, quando pensa em mudanças, talvez seja melhor optar por mudanças sutis, mas perceba que em todas há um risco calculado. E mesmo assim, mude, porque mudar é a única maneira de viver. Bem pode ser que pequenas mudanças te preparem para grandes mudanças.

Quem não muda nada, vive pouco, ou quase nada. Come dos mesmos sabores, sente os mesmos cheiros, vê as mesmas paisagens, ouve as mesmas melodias, sente os mesmos sentimentos, experimenta os mesmos tatos e contatos. Sempre há tempo para mudar.

Quanto mais avançada for a idade de um homem, mais ele deveria introduzir mudanças em sua vida. Afinal, na morte que espreita os nossos últimos dias, os cheiros não existem, os sabores não são percebidos, a paisagem não nos afeta, a alegria e o prazer não nos alcançam, e, portanto, a mudança não cabe. E se cabe, não dependerá mais de nós. Teremos outra capacidade de percepção. Mas enquanto temos esta, vamos buscar a mudança porque ela é a característica mais marcante dos seres vivos.

Ana Maria Ribas Bernardelli

Estudante de humanas-idades, cidadã do céu e da terra, escritora por compulsão, leitora de letras, de pontos, de reticências, e de linhas, interventora de paisagens, solitária por opção, gregária por necessidade, gosto de músicas, filmes em que só as pessoas acontecem, documentários, biografias, e todas as obras de Clarice Lispector e de Watchman Nee. Vivo a espiritualidade, sem religião. Não tenho afinidades com rituais e com scripts que se repetem. Amo a liberdade, os animais, as plantas, os velhos, as crianças, e todos os seres que se sentem estranhos no ninho. Fujo de superficialidaes, e não tolero nenhum tipo de injustiça, crueldade, ou tirania. Adoro a Deus e a ele quero servir. Escrevo para organizar a vida, para aguentar o tranco, e em cada texto meu, você me encontrará. Espero que eu também lhe encontre no meu email, no meu site, e nos meus endereços nas redes sociais. Feliz por estar com vocês!

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