Imagem de capa: iordani, Shutterstock
Mais um café quente derramado. Mais um papel amassado. Mais um coração frágil despedaçado. Nas madrugadas frias e escuras enquanto todos dormiam, ele escrevia. Não era um escritor nato, era apenas um mero garoto que escrevia o que sentia. Ele não tinha o dom do Nietzsche ou a sabedoria instigante do Kant, mas conhecia o amor como ninguém em tua estante.
Mais um café. Mais uma história. Mais uma noite perdida. Mais um coração vazio e solitário. Talvez teu erro foi ter amado mais as palavras do que a própria mulher que o inspirou a escrevê-las. E demorou pra ele perceber que sem ela, ele era apenas um prisioneiro de suas próprias lembranças.
Ele não sabia falar de amor como o Pessoa, não tinha o charme do Gabito Nunes, ou sequer a genialidade do Hugo Rodrigues. Mas sabia amar as palavras como ninguém. Na solidão que se fazia companhia ao lado do coração, as palavras ganhavam vida no papel rabiscadas por tuas mãos.
Mais um cérebro. Mais um verso triste. Mais um café para expulsar o sono. Mais uma noite mal dormida.
Ele matava o amor em cada noite que não dormia. Sem ela, ele perdeu o juízo, os juízes da vida e todo o resto. Sem o castanho das retinas dela, ele perdia o colorido de todas as manhãs.
A madrugada virou parceira. O café, fiel escoteiro. A solidão se fez companheira. O papel grafeno, irmão aventureiro.
Ai a saudade bateu.
Então ele escreveu.
As lágrimas caiam.
Mas as mãos insistiam.
Uma vontade insana de escrever.
Um desejo enorme de viver.
Mais um café.
Menos um cafuné.
Mais um verso.
Menos um gesto.
Palavras de um papel sem cor.
Noites sem amor.
Mais uma profunda solidão.
Menos um afeto de um coração.
Menos um pôr-do-sol contemplado. Menos uma manhã admirada pelas retinas de teus olhos fadigados. Menos um sorriso mundo afora. Menos passado, menos presente, menos o agora.
Todo mundo se arrepende de algo uma hora ou outra.
“Mas se ninguém souber que se arrependeu, vão pensar que fez o que queria.”
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