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Porque acordar e deitar a manhã no rosto é uma forma de participar da vida. E deslizar pelo dia até ser confundida com a tarde, me dá alguma noção de escassez ou acúmulo de tempo. E quando a noite chega, deixar que os pontos luminosos perfurem minha retina, me traz a sonolência docemente, como quem tem os cabelos afagados pelo travesseiro. Abraçar a cama e deixar que ela me acolha. Receber o cansaço e transformá-lo em um sono sossegado. Confiar na vida e me entregar ao sonho. Acordar de um pesadelo e agradecer pelo alívio.

Participar da vida é absolutamente conviver com a naturalidade das coisas: sentir fome e poder comer, sentir saudade e poder entrar em contato, ter energia e poder produzir algo, sentir preguiça e debruçar os olhos deixando a vida passear por eles. Sentir sono e poder dormir (como tudo isto é precioso!). Estar inserido neste cotidiano e ser grata: por estar inteira nele e na gratidão. Perceber que enquanto o mundo se move o peito respira e reconhecer a alma na gente e nas coisas. E respeitar o que a alma guarda ou expõe.

Entender a dor: física ou emocional. Estender a alegria. Respeitar o momento de cada momento. Buscar paz dentro disso tudo mesmo que ela só chegue nos intervalos dos pensamentos. Mas, acima de tudo, ser grata: pela transitoriedade, pela sensação de eternidade, pelo que dura, pelo que se vai rapidamente. Cada uma dessas coisas terá uma importância diferente de acordo com as circunstâncias. Mas sobreviver e viver, a tudo, em tudo, com todos e ser grata, ilumina a mente e acalma o coração.

A gratidão é o elemento essencial em cada segundo do meu tempo. Ela me traz coisas boas, um olhar mais otimista, um senso de proteção espiritual poderoso e a paciência necessária para superar cada etapa desconfortável e aproveitar intensamente cada minuto de entusiasmo.

A gratidão me faz recordar incessantemente dos meus privilégios: e estes são listados assim mesmo: hoje sou milionária porque tive uma manhã, uma tarde e recebo esta noite que chega. E tive uma das maiores alegrias da minha vida. E depois o dia continuou tão normal quanto qualquer outro. E nada me doeu ou magoou. E o amor que dou e recebo é tão explícito sempre: o medo nunca nos guiou. E eu sou tão grata por tudo. E sinto que a vida me dá coisas maravilhosas porque sabe disto.

Desejo boas notícias.

Marla de Queiroz

Marla de Queiroz, brasileiríssima, é marlabarista de palavras. Simples e complexa como a contradição. Negra-índia urbana: fruto improvável de nó de intelecto e calo de mão. Seus versos vêm da imagem, do amor, da saudade, da contemplação. Com estética e sotaque próprios, nascem em Brasília e deságuam no Rio de Janeiro. Ler Marla é sentir a confortante sensação de que não estamos sós. É saber que temos alguém por perto para expressar o que sequer conseguimos sentir. (André Averbug)

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Marla de Queiroz

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