Imagem de capa: wavebreakmedia, Shutterstock
O jeito que ele me olha é que me inspira e desgoverna. Um jeito que me conhece no derramado de dedos que convidam. De quando eu peço abraço quando ele quer me dar, mas faço tudo quase num contorcimento de dor, e ele acha bom eu ser intensa. E a voz sem sossego, o corpo pronto e quente sempre.
E, se ele demorou tanto, nós sabemos: amor também precisa amadurecer ou maturar na arnica, feito remédio. Nunca tive muita impaciência na espera, ele sabe. Pude pular de galho em galho e ir embora quando meu coração não queria ficar, enquanto. E, das vezes que quis ficar e não tive espaço, entendi.
Funciona quase como o mesmo modo de quem faz ninho para um só passarinho, aquele todo especial. Mas eu exerci meu par de asas. E fui feliz com as paisagens que sobrevoei. Aí, quando eu menos esperava, ele chegou encompridando alegrias tão amenas, tão bestinhas.
Fui compreendendo aquela falta de desespero. Eu achando graça na saudade. Eu perdendo o peso da lembrança só pra rir de tudo. Eu ficando leve. Eu sentindo sono logo na infância da noite. Porque meu coração estava, enfim, descansado. Eu achando bom meu coração pousar assim: decidido e destrambelhado.
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