Imagem de capa: Dragana Gordic, Shutterstock
Outro dia ouvi alguém dizer assim: “eu compreendo você e exijo que você me compreenda também”, o dedo em riste, a jugular saltada, um olhar de fogo fulminando seu interlocutor.
Era uma dessas discussões improdutivas, sem pé nem cabeça, sem começo nem fim, provocadas por um sujeito aparentemente sem mais o que fazer. Deu vontade de entrar na briga e argumentar: “moço, não seja bobo! Toque sua vida em frente e deixe o outro compreender o que quiser”!
Mas eu tenho a impressão de que ele não ia entender nada.
Compreendi então que era melhor ficar quieto e pensar no assunto. E me dei conta do quanto a compreensão é um negócio difícil.
Fosse o ser humano mais simples, a gente não complicava tanto e chegava logo à conclusão mais evidente do mundo: compreender o outro é aceitar que talvez ele nunca nos compreenda. Não há mais o que fazer a respeito. Compreender é uma opção de cada um. Ser compreendido é uma eventualidade. Mas não. Somos uma espécie complexa e delicada, incapaz de aceitar o óbvio.
Sejamos razoáveis. Você e eu não somos donos da compreensão de ninguém. Logo, só nos cabe compreender que nem sempre seremos compreendidos, aceitar que nem sempre seremos aceitos, tolerar que há sempre alguém disposto a não nos tolerar por perto.
Não se manda na compreensão do outro, não. Ele compreende o que quiser e o que puder, se quiser e se puder.
O máximo que nos resta é tentar fazer com que o outro nos ouça, nos escute. É nos fazer entender. Agora, se ele vai nos compreender ou não, já não é de nossa alçada.
Gente compreensiva de verdade não bate o pé exigindo reciprocidade. Isso não é ser compreensivo. É ser birrento e infantilóide.
Se não somos aceitos no lugar onde estamos, mudemos de lugar. Não é fácil. Mas é ofício de todo ser racional assimilar quando nosso canto no mundo não é aquele, quando nossa turma é outra e quando seguir adiante é questão de sobrevivência.
Tanta gente por aí cobrando a compreensão alheia me dá vontade de entrar na briga e replicar: “hellow-ow!”. Quem tanto cobra a compreensão do vizinho esquece de tornar compreensivo a si mesmo. Compreender é uma escolha e uma postura de cada um! Eu tento compreender o outro e não exijo que a recíproca seja verdadeira. Se cada um fizer a sua parte, quem sabe um dia sejamos capazes de compreender uns aos outros.
Mas eu tenho a impressão de que eles não iam entender nada.