Imagem de capa: Asier Romero, Shutterstock
Quem conta uma mentira raramente se dá conta do pesado fardo que toma sobre si. Para manter uma mentira, muitas vezes é preciso inventar outras vinte.
Mentir requer uma concentração absurda. A história precisa convencer o outro, precisa fazer algum sentido, ainda que minimamente. E, para que o enredo não fique sem pé nem cabeça, aquele que mentiu vai colecionando argumentos.
O problema desses argumentos é que eles carecem de solidez. Uma vez que foram criados para alicerçar tardiamente, uma inverdade que se disse por impulso ou premeditação, são frágeis e artificiais.
A mentira pode vir a se tornar um hábito. Há pessoas que as usam como acessórios; enfeitam fatos ou vivências reais com alegorias falsas, na tentativa de dar às suas histórias ou memórias pessoais uma aparência mais interessante.
E de tanto “florear” a realidade, a vida da pessoa vai sendo transformada num jardim de flores de plástico. As experiências reais, relegadas a pano de fundo, perdem o viço e a importância.
Aos poucos, a pessoa que “aumenta”, mesmo sem perceber, vai deixando de investir em vivências ricas de significados, porque se habitou a enriquecê-las depois, com detalhes que variam de acordo com a intenção ou necessidade.
Há ainda aqueles que mentem com tanta convicção que as memórias acabam virando uma mistura caótica de coisas que realmente aconteceram, outras que aconteceram, mas não exatamente daquela forma e outras, que são uma completa ficção.
A perda do contato com as experiências reais produz indivíduos rasos e pouco confiáveis. O comportamento daqueles que se habituam a inventar, sai facilmente dos trilhos e acaba descambando para a falta de noção. E há poucas coisas tão constrangedoras quanto ficar desacreditado.
Todo mundo mente? Ahhhh.. sim. Circunstancialmente todo mundo vai acabar contando uma mentirinha aqui, outra ali. Até porque, tem verdades que é melhor a gente guardar numa gavetinha secreta qualquer. Aquelas gavetinhas da mente sem comunicação com a língua, sabe?!
A verdade a verdade mesmo. Não a minha verdade, a sua verdade, a do padre, do terapeuta, ou de qualquer outro tipo de guru autoproclamado. A verdade, que existe a despeito do quanto a gente acredita ou questiona; essa daí tem muita força. É um curso d’água em queda livre. Invade tudo e acaba vazando por todas as frestas. E as mentiras que se preparem junto com seus idealizadores; mais dia, menos dia, acabarão afogadas ou carregadas para bem longe das maravilhosas realidades que foram impedidas de brotar.
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