Imagem de capa: HTeam, Shutterstock

A fila andou. Pra você, não pra mim. Pra mim, isso nunca se tratou de fila, sequência. Eu morava em você e acreditava ser também a sua casa. Não havia outros enfileirados. Só você ali. Mas ontem te vi na rua, sorriso aberto, com uma roupa que eu não conhecia e isso também me doeu. A vida andou. Te olhar com um olhar estranho, te ter perto como não sendo meu, aquilo me feriu de um tanto, que pensei que iria enlouquecer.

A fila andou. Soube recentemente, quando me contaram cheio de dedos. Você já estava amando outra vez. Sempre parecerá rápido demais pra mim. Eu ainda nem entendo direito que acabou. A minha autoestima parece ter ido por engano na caixa com as suas poucas coisas. Mas pra você, andou. O amor está logo ali, te tornando novo, te fazendo interessante, te ajudando a esquecer de mim. Ao que parece, a fila ao lado anda sempre mais rápido.

A fila andou. E tudo o que antes te parecia inconcebível, virou rotina. Tudo que eu mendigava, agora farta. Parece que a fila andou pra um lugar melhor pra todos e eu sigo aqui. Eu poderia dizer que fico feliz, que desejo o melhor, que espero mesmo que sejam muito felizes. Mas isso também seria mentir. Eu desejo que você seja pleno, que viva a sua verdade, eu desejo de verdade que você seja feliz, mas jamais que fico feliz por vocês.

Não sou do tipo gentil, superior. Não sou do tipo conformada. Não sou do tipo intelectualizada. Não sou a mulher civilizada, eu sou antiga e anterior. Eu sou primitiva, apavorada, instintiva. Sou unha e carne de amor. Passional, possessiva. Vermelho sangre. Eu não sou do tipo que passa a vida de fila em fila. Prefiro correr por aí, louca, descabida, livre da necessidade de me pendurar imediatamente ao outro. Livre da incoerência de não parecer sozinha, quando isso é realmente tudo o que eu sou. Por aqui, querido, a fila não andou. Sigo na direção que eu quiser.

Diego Engenho Novo

Escritor, publicitário e filho da dona Betânia. Criador do blog Palavra Crônica, vive em São Paulo de onde escreve sobre relacionamentos e cotidiano.

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Diego Engenho Novo
Tags: a fila andou

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