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Te deixo livre para partir

Eu fui embora de queixo erguido, mas com a garganta engasgada e nos olhos uma lágrima que ameaçava cair. Uma não, várias. Uma chuva delas. Eu fui embora sem deixar que você percebesse a minha tristeza em ter fracassado. A minha tristeza em ter amado tanto e ter recebido tão pouco. Não que eu tenha te dado tudo que eu tinha esperando que me desse de volta. Mas eu quis ter seu afeto, claro que quis. E como eu quis. E quis tanto que por um momento que fosse você se entregasse também. Isso nunca aconteceu.

A gente se conheceu em um momento bem complicado da minha vida. Era difícil confiar em alguém novamente, mas eu confiei e não me pergunte o porquê… São desses misteriosos desígnios da vida que a gente não consegue explicar. Era pra ser. Tinha que acontecer. E tudo que eu não queria era que você sofresse o que eu sofri um dia. Então eu fiz por você o que nunca ninguém fizera por mim. Eu te dei tudo que eu tinha, e eu me refiro a muito além do físico: te confiei minha alma e meu coração. Mesmo que você não soubesse, te dei a fidelidade dos meus atos, dos meus passos, dos meus pensamentos. Eu fui fiel mesmo quando em um desentendimento você se distanciou e procurou outros braços. Eu ouvi tanto os meus amigos dizerem que eu estava sendo boba, que nós não tínhamos um relacionamento e que eu deveria ficar com outro, ter um plano B, C ou o diabo a quatro. Mas eu fiz bem o contrário. Me mantive fiel ao que sentia, me mantive fiel a você mesmo sabendo que o meu posicionamento político serviu como justificativa para você se encontrar em braços menos fiéis e exclusivos que os meus. Eu rasguei o meu coração para costurar o seu.

Eu nem posso enumerar quantos sábados fiquei em casa, pensando em você, sabendo que você não iria aparecer, que qualquer festa ou bebida era mais atraente do que estar comigo. Ou que simplesmente eu não poderia estar com você nesses lugares; verdade nua e crua: porque você não queria. Eu nem sei como eu aguentei. Como eu aguentei ver você comemorar seu aniversário e não ser convidada, ver você sair com seus amigos e amigas e nunca ser chamada. Talvez eu nem iria se me chamasse porque, afinal, eu era uma estranha no seu círculo. Mas como doeu não ser nem mesmo lembrada nesses momentos.Sem dúvidas, essa foi a maior batalha que já travei: querer estar em um lugar no qual eu era restrita. E também foi a maior derrota que eu já sofri. Eu saio desse campo de cabeça baixa tendo a certeza de que esse será um daqueles capítulos que sempre vai me doer quando eu olhar pra trás.

Então te deixo livre para outros caminhos, para outros beijos, para outras pessoas, para outros endereços, para outros textos que não serão escritos por mim. Te deixo livre todos os dias da semana, de todos os meses dos anos que nos restam. Te deixo livre para me esquecer, apagar da memória e viver histórias que te façam sentir o que um dia eu senti. Te deixo livre para partir porque agora eu parto também. E não deixo a ti vestígios de mim. Te deixo livre, acima de tudo, porque quero me ver livre também.

Nat Medeiros

“Sou personagem de uma comédia dramática, de um romance que ainda não aconteceu. Uma desconselheira amorosa, protagonista de desventuras do coração, algumas tristes, outras, engraçadas. Mas todas elas me trouxeram alguma lição. Confesso que a minha vida amorosa não seguiu as histórias dos contos de fada, tampouco os planos de adolescência. Os caminhos foram tortos, íngremes, com muitos altos e baixos e consequentemente com muita emoção. Eu vivo em uma montanha-russa de sentimentos. E creio que é aí que reside o meu entendimento sobre os relacionamentos. Estou em transição: uma jovem se tornando mulher experiente, uma legítima sonhadora se adaptando a um mundo cada vez mais virtual. Sou apenas uma mas poderia ser tantas que posso afirmar que igual a mim no mundo existem muitas e é para elas que escrevo: para as doces mulheres que se tornaram modernas mas que ainda acreditam nas histórias de amor.”

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