Nas palavras do bardo ex-Los Hermanos, “é só teu coração que não te deixa amar / você precisa reagir / não se entregar assim como quem nada quer…”.
Certa vez, o norte se perdeu. Você, letárgico pelas experiências amargas dos desamores, não acredita na redenção. Quer porque quer atribuir culpa ao fracasso, no descaso incondicional e emocional que o levaram para mais um triste fim. Indo além, não se acha merecedor do mais amor e, relutante, credita que o sofrimento concebido significa ter feito o possível. Mas não é bem assim. Insistentemente, refaz os passos, delineia os fatos e vocabulários. Procura no dicionário explicação para o peito doído, dilacerado pelas mazelas do viver a dois. Acontece que, o direcionamento das frustrações não trará respostas. Seguir através dos caminhos finitos não o fará encontrar os meios. Ambos erraram. Ambos optaram por dizer adeus, ainda que, de alguma forma, um tenha acenado para a saída antes do outro.
Para o amor não há condições, mas situações. Desbravar as nuances dos relacionamentos é como adentrar numa jornada épica e misteriosa rumo ao nada. Mas por que nada? Porque não existe tudo. Corações não podem ser completados, apenas somados. E esta soma apartidária necessita de sintonia e quereres transcendentes às nossas próprias necessidades. Você procura abrigo quando deveria almejar por alguém que busque partir com você. Quer esticar as pernas no sofá e deixar o tempo passar, mas a estrada sorri através das janelas, e com elas, a oportunidade estupenda de entrelaçar mãos com alguém que quer desbravar o novo junto.
O passado sempre será presente. E neste paradoxo funcional, a cura é tentar sorrir de novo. Aportar em si para reergue-se diferente, para estar receptivo a uma nova tentativa. Mesmo sendo penoso com a desconfiança no limiar da desesperança, aspirando nada menos que a conformidade da suposta maldição para relacionamentos, de repente, numa esquina social, a empolgação rejuvenescedora esteja passando exatamente no mesmo horário, e aí o cinza pode vir a deixar de ser tão cinza.
Esculpir o “se” é irregular, prejudicial e deixa cicatrizes que nem o tempo ou lágrimas podem fazer desaparecer. Ninguém aprecia um coração sofredor, repleto de traumas e descompassado pelas estórias de um outrora. Não há tempo hábil para reestruturar os sentimentos do outro. Você não teve culpa na partida, mas quem chega não possui obrigação de sair entrando de qualquer jeito. Manter isto, torna o ciclo líquido, sem sentido e desencorajador para ambas as partes.
Para reencontrar o norte, dispa-se das expectativas, descubra a serenidade e o afago nos próprios pés. Assim, quem sabe, o teu coração lhe conceda o alvará para amar de novo.
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