Eu não gosto de baladas; já gostei bastante, mas hoje em dia prefiro uma cama com livro, um filme na Netflix, ou um vinho & uma boa companhia.

Já passei muitas noites em claro pensando no que fazer quando o dia amanhecesse, já chorei achando que não viveria mais depois de ter meu coração despedaçado e de me esborrachar no chão, já dei pulos de alegria tendo a certeza que não me conteria de tanta felicidade, já vibrei vendo um lindo por do sol do alto de uma montanha enorme…

Sempre achei que “porque sim não é a resposta”, já disse mais de mil vezes: “Vamos fugir?”, já fiquei viciado em filmes como “O segredo dos seus olhos”, “Lost in translation” e “Antes do amanhecer”. Já tive como mantra aquela música do Oswaldo Montenegro que dizia “que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que mereço”, já ouvi o barulho do mar dentro de uma concha que alguém trouxe da praia, já tentei abraçar e mudar o mundo outras centenas de vezes.

Já fiquei na fila pra comprar um ingresso pro show do U2 durante horas, já tive medo quando eu não tinha repostas que o meu coração necessitava, tive coragem quando sabia que teria que seguir meu caminho e não poderia mais olhar para trás…

Já tive cabelos brancos e tive cabelos também, já usei carteira da Company, detonei um kichute de tanto bater bola e joguei Atari com meus amigos a ponto de ficar com bolhas nas mãos…

Já chorei vendo filme tipo sessão da tarde, cantei Menudo por osmose quando minha irmã mais velha só ouvia isso em casa, peguei um trem sozinho para a Patagônia em uma viagem ao Chile e voltei bêbado, pingando em cada vinícola ao voltar pro hotel…

Já achei que morreria de saudades quando fui abandonado, me conectei com o que me fazia bem pra conseguir me reerguer, já fiquei parado em frente ao mar durante horas tentando encontrar algum sentido que me definisse por completo.

Já busquei respostas em livros de auto ajuda, brincadeiras do copo, bulas de remédios, Mãe Dinah, grupos de oração, sessão descarrego e consultórios de psicologia. Já saí de casa querendo nunca mais voltar, bebi três shots de tequila de uma vez só, dei duas voltas de cueca no quarteirão pra pagar uma aposta quando o São Paulo foi bi mundial!

Já acordei às 5:30 da manhã para nadar no inverno, comi pastel na feira depois do baile de Carnaval quando o dia já amanhecia, peguei o microfone na minha festa de casamento pra cantar “Só Hoje”, do Jota Quest, em homenagem à minha (ex) mulher, já mentalizei aquela letra da Marina Lima: “eu sei que o amor é bom demais, mas dói demais, sentir”

Já cai de bicicleta e dei 8 pontos no joelho esquerdo, briguei com minha irmã mais nova e fiquei um ano sem falar com ela, dei voltas e mais voltas tentando encontrar o melhor estilo, a melhor roupa, o melhor penteado mas só me encontrei quando passei a viver de acordo com os meus valores…

Já fiquei ensopado de chuva e trancado pra fora de casa todo molhado por esquecer a chave no trabalho, já estive em Londres mas com a cabeça em outro lugar, já deixei de ir ao show do Eddie Vedder por achar um absurdo os preços dos ingressos.

Já morri de medo da Cuca e daquele episódio do Minotauro do “Sítio do Pica Pau Amarelo”, também não dormi a noite porque assisti “Poltergeist” na TV, já quis ter um casal de gêmeos chamado Lucca e Manú, ouvi mais de mil vezes “Fix You”, do Coldplay!

Já elegi como música da minha vida “Walk On”, do U2, “Wishlist”,do Pearl Jam e “Times like these”, do Foo Fighters, só por causa do refrão: “It’s times like these you learn to love again…”.

Mas não me envergonho nem um pouco em dizer que “Meu mundo e nada mais”, do Guilherme Arantes está entre as minhas 10 preferidas de todos os tempos!

Já me achei o fodão pica doce inúmeras vezes, noutras trocentas me senti um bosta master boost, já tentei fazer coisas que nunca consegui e por pura teimosia continuo tentando até hoje, mandei pra “pqp” muita gente e em reposta ouvi um sonoro “vai tomar no cu”.

Já tentei encontrar a melhor foto, no melhor ângulo, com a melhor cara pra colocar no perfil do FB e WhatsApp, e só depois me toquei que isso é, literalmente, uma M-E-R-DA; realmente existem coisas na vida com muito mais relevância, urgência e importância!

Já tomei porre de vinho ruim, já fiquei com mulher feia, já ouvi música de gosto duvidoso – e no fim, percebi que tudo é relativo: depende de quem vê, de quem sente e, sobretudo, me lembrei quando meu avô dizia: “Meu filho, gosto não se discute”.

Já tive pensamentos desconexos, já entrei em uma bad trip, já fui parar na casa do caralho, mas hoje sei que todo dia temos uma nova chance de recomeçar, que somos os únicos responsáveis pela nossa caminhada, que sempre é bom nos desafiarmos. O importante é escutar mais o coração, descobrindo novas histórias e que, mais legal que conhecer a estrada, é percorrer o caminho!

O que serei aos 90 anos?? Sinceramente não sei… espero ter acumulado conhecimento o suficiente para sempre olhar pra trás e ter orgulho da trajetória percorrida, ter sabedoria para encarar meus medos e percalços e sobretudo, ir vivendo uma coisa de cada vez, sem essa vibe de tudo ao mesmo tempo agora.

Imagem de capa: Max kegfire, Shutterstock

Djalma Alt Faria Neto

Djalma, DJ, Djas, Djalminha, Jajá - pode me chamar do que você quiser. Ortodontista que usa All Star, posso viver sem muitas coisas - mas por favor, não me peça pra viver sem música. Hoje em dia mais praia que montanha, mais Pearl Jam que U2, mais Dave Grohl que Kurt Cobain, mais chuva que sol, mais corrida que caminhada, mais sorvete que brigadeiro, mais natação que spinning, mais Instagram que Twitter e muito, mas muito mais cabernet que internet.

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  • Adorei o texto! Me identifiquei em vários momentos teus! Agora também estou tentando ir mais devagar, cada coisa em seu lugar... a seu tempo, mantendo a calma na alma.

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Djalma Alt Faria Neto

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