Imagem de capa: sergey causelove, Shutterstock
É bom estar comigo. Acordar com o sol, ver o progresso do dia e saber que caminhei junto. Cumprir minha rotina de s’il vous plâit et merci beaucoup e ser mais uma luz acesa numa janela, contemplativa e sossegada enquanto anoitece. E acariciar o cansaço, adiar o descanso, verter para o corpo, no banho, os pensamentos acumulados na mente durante o expediente do sol, da chuva, da primavera. Il fait beau, Il fait froid, Il (presque) fait chaud. Expandir minha Consciência e a minha presença para mim, com o Outro. É bom estar dentro de vagões dos metrôs de Paris cumprindo minha rotina de excusez-moi et pardon, constatando que cem anos de solidão não foram suficientes para os personagens de G.G. Márquez. E o livro em mãos, la baguette na bolsa da femme de touca rouge e olhos bleus.
É bom estar comigo, quieta e silenciosa, debruçada numa janela aberta para a nuit, bebendo l’eau Perrier, riscando o céu com o dedo indicador, como quem desenha uma lua nova com a jugular do breu. E comemorar quando palavras se agitam, petit à petit, numa ansiedade bonita de abotoar uma frase e costurar algum texto. Palavras que querem ser livres*.
É bom estar comigo: conhecimento que ganhei com a vida quando desperdicei fugas, acumulei silêncios e aprendi um jeito de escutar os sussurros de mon coeur. E entendi que eu posso lembrar de todas as coisas sem, necessariamente, sentir saudade, estar desconectada de la nostalgie para enfrentar o dia-a-dia aqui. Saber que o passo-a-passo da alegria é chorar quando se tem vontade e não se recusar a sorrir. É sentir o vazio fértil e não um interior inóspito. E, acima de tudo, não esperar apenas que as pessoas me inspirem amour :
Parce que…
Je t’aime quand je m’aime.
(*livre em francês significa livro)
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