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A gente tem que parar de colocar reticências onde só cabe ponto final

Eu achava que meu amor, por ser grande demais, seria suficiente. Eu, que sempre fui tão orgulhosa, dessa vez não me preocupei em estar amando por dois. Eu queria fazer por ele, tudo aquilo que ninguém nunca fizera por mim. Por quê? Porque ele valia a pena, naquele momento ele valia muito a pena. Era nisso que eu acreditava.

Eu não posso enumerar quantas vezes eu quis levá-lo ao céu, mesmo sabendo que no dia seguinte ele desapareceria e isso me levasse direto ao inferno. Eu rasguei o meu coração para costurar o dele e te dar toda segurança do mundo, toda segurança que ele mesmo não me daria. Eu tirei minha armadura pra poder me entregar a ele. Sem ressalvas, sem poréns, sem condições. Eu apenas fui em sua direção, atravessando todos os obstáculos, um a um. Muitos destes que ele mesmo havia colocado: “Não quero me envolver, não quero nada sério, não quero preocupações. Está legal assim, do jeito que está.”. Eu fui engolindo isso por amar demais. Mas a verdade é que pra mim não estava mais sendo legal. E creio que ele sabia. Como ele mesmo me disse um dia e eu nunca esqueci: “Você está se sentindo de lado nessa relação. E eu sei que eu poderia ser melhor pra você do que eu estou sendo.”. Até ele sabia que poderia ser melhor pra mim. O que eu demorei a ver foi que EU, EU não estava sendo tão boa pra mim quanto eu poderia ser. Ou melhor, como eu deveria. Eu estava me reduzindo a nada, nadinha mesmo. A um zero a esquerda. Logo eu, que sempre fui uma pessoa de presença, de altivez: me reduzi ao menor que eu poderia ser. Eu me tornei um fantasma, aquela com quem ele estava mas jamais assumia. Eu me anulei.

Quando eu caí em mim da loucura que eu estava fazendo, eu decidi cair fora daquilo. Ele não se opôs. Na verdade, indiretamente me incentivou. A ausência dele, cada vez mais presente em minha vida, me mostrava o quanto a minha presença era insignificante na vida dele. E então eu fui embora, sem olhar pra trás. Eu precisava fazer algo POR MIM agora.

E foi então que eu aprendi que partir não dói, não. Que desistir não dói, não. O que dói é insistir em algo que não está dando certo, onde a única coisa que se tem é uma esperança que não se atinge. Ir embora não dói. O que dói é ficar onde não há espaço pra você. O que dói é insistir naquela porta que não se abre, naquele amor que não se alcança. Desapegar não dói. O que dói é se agarrar à dor achando que aquilo é amor. Passar o sábado sozinha também não dói. O que dói é passar o sábado com alguém que não está com você.

A gente tem que parar com essa mania de achar que amor tem que ser doído, tem que ser batalhado. Tem não, viu. Amor é pra ser vivido a dois. Alimentado dos dois lados, senão definha. Se somente um ama, isso uma hora termina, inevitavelmente. E a gente não tem nem que insistir.

A gente tem é que parar de colocar reticências onde só cabe o ponto final.

Nat Medeiros

“Sou personagem de uma comédia dramática, de um romance que ainda não aconteceu. Uma desconselheira amorosa, protagonista de desventuras do coração, algumas tristes, outras, engraçadas. Mas todas elas me trouxeram alguma lição. Confesso que a minha vida amorosa não seguiu as histórias dos contos de fada, tampouco os planos de adolescência. Os caminhos foram tortos, íngremes, com muitos altos e baixos e consequentemente com muita emoção. Eu vivo em uma montanha-russa de sentimentos. E creio que é aí que reside o meu entendimento sobre os relacionamentos. Estou em transição: uma jovem se tornando mulher experiente, uma legítima sonhadora se adaptando a um mundo cada vez mais virtual. Sou apenas uma mas poderia ser tantas que posso afirmar que igual a mim no mundo existem muitas e é para elas que escrevo: para as doces mulheres que se tornaram modernas mas que ainda acreditam nas histórias de amor.”

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