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Terminar não é ponto final, é interrogação

Minha decisão foi muito bem pensada, ele precisava ir embora. Eu disse essas palavras com toda a firmeza que carregava no peito e vi seu rosto congelar. Ele ficou mudo por alguns segundos esperando que eu dissesse mais alguma coisa, eu não disse… nem respirei. Ele me fez questionamentos e tentou entender motivos que eram muito particulares. Fez declarações e promessas de mudança. Suplicou e fez juras de amor. Tudo em vão. A decisão estava tomada e eu precisava me manter forte.

Senti seus olhos cravarem nos meus com incredulidade e engasguei quando disse, de todo coração, que o amor não havia morrido. Obviamente ele não acreditou em mim, mas essas palavras são genuínas, ainda carrego um amor lindo e intenso por ele, mas só amor não é suficiente, eu preciso ser feliz e não sou. “Eu te amo, mas não sou feliz.” Foi quando eu disse isso que ele desistiu de insistir e levantou-se do sofá.

Não foi fácil vê-lo arrumar tudo e colocar os planos e sonhos na bagagem. Não, não pense que foi simples segurar as lágrimas todas que transbordavam do meu coração. Não foi. Eu sangrei na sala enquanto ele cumpria minha sentença no quarto, colocando uma verídica história no fundo de uma mochila velha. Foi doloroso ver as malas se acumularem e olhar para olhos inchados e vermelhos. Eu me mantive firme por fora, mas desmanchava por dentro. Ele recolheu tudo, parou na porta e me fez uma última pergunta: “Você tem certeza? ”. Essa era a única pergunta para qual eu não tinha resposta, mas ainda sólida, menti: “Tenho”.

Ele deu os ombros em sinal de derrota e partiu fechando a porta. Eu fiquei ali, no mais absoluto silêncio e sozinha pude tirar a armadura e ficar desnuda e veraz. Chorei. Chorei baixinho por toda aquela noite e indaguei incontáveis vezes se eu sabia o que estava fazendo. Minha cabeça dizia que sim, mas meu querer dizia que não. A saudade brotou dos meus poros e eu abracei os joelhos na falha tentativa de encontrar conforto. A agonia foi dominando toda minha alma e eu gritei por socorro.

Eu não estava feliz e sei que tenho melhores chances agora, mas por que preciso sacrificar um amor para conquistar o mundo que sonho pra mim? Por que não sou capaz de unir dois dos mais poderosos sentimentos? Eu só queria amá-lo e poder realizar meus sonhos ao mesmo tempo. É pedir demais? Acho que sim, essa possibilidade não me foi dada e carregarei para sempre esse fardo. Serei feliz, eu sei, mas jamais conseguirei esquecer o dia em que enterrei meu amor 7 palmos abaixo da terra.

Eu sempre achei que levar um pé na bunda era a pior posição no fim de uma história amorosa, mas não. Hoje eu sei que terminar dói ainda mais. Por quê? Ele está livre, não carrega o peso da decisão nas costas, eu não. Eu estou acorrentada ao “E se eu não tivesse terminado?”

Monika Jordão

Atriz, escritora e paulistana. Acredita que o papel reflete mais do que o espelho. Apaixonada por livros, futebol, tequila, café e Coca-Cola. Buscando sempre o equilíbrio emocional e os amores inesquecíveis.

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  • Eu tenho passado por tudo isso, em fim ,e quando a mulher sai de casa e deixa o seu marido com dois filhos doi na alma e não consigo deixar de ama-la mesmo sabendo que ela já está decidida? Ponha-se no lugar do homem e o que estou sentindo, será que poderia fazer um comentário a respeito.

    • Dhjon!
      Eu entendo que a sua dor é imensurável. Minha intensão nunca foi de diminuir a dor de quem é deixado, apenas quis relatar que quem desiste também sofre.
      Essa é uma obra de ficção, não é minha realidade.
      Espero que você possa superar esse momento difícil e seja feliz!
      Um grande beijo
      Monika Jordão

  • Ai Monika... Eu escrevo (aqui também). Estava dando um tempo pra falar no assunto... E veio você com essa narrativa. Preciso checar as câmeras de segurança de casa, deve ter um vírus transmitindo as imagens rsrs.
    Quem desiste também sofre... né? Eu costumo repetir e repetir que amar, só, não basta, não sustenta. Que as diferenças fazem diferença...
    Enfim... São daquelas decisões que cortam na carne e por bastante tempo ainda vão doer no coração...

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Monika Jordão

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