Tenho pensado bastante sobre a vida ser uma questão de se aconchegar. Tudo o que a gente quer é estar confortável no emprego, na casa que a gente vive (seja ela grande ou pequena), com as pessoas que gostamos ao nosso redor.
É para ficar à vontade que a gente pinta o cabelo, faz tatuagem, opera o nariz. É por isso que mudamos de emprego, compramos quadros, fazemos textura na parede. Tudo é uma questão de nos aceitar e ajeitar o que temos para encontrarmos o nosso lugar (ele existe mesmo?) e podermos relaxar.
É por causa dessa zona de conforto que a gente não para de se mexer. É como fazer uma longa viagem de ônibus. Até chegar ao destino, tentamos encontrar uma posição para repousar. Seguramos o rosto com o cotovelo, fazemos o casaco de travesseiro, encostamos a cabeça no vidro (ah! a janela!). Dormimos no máximo uns dez minutos em cada posição e logo somos despertados pelos incômodos das câimbras, do aperto, do desajeito.
E começa tudo outra vez. É assim até a viagem chegar ao fim.
Desconfio que acontece o mesmo com a vida: há o tempo de descansar e de movimentar, apesar de passarmos uma boa parte dos dias buscando o conforto eterno, a imobilidade. Esperamos ansiosamente pela hora de aquietar com alguém, em um bom emprego, na casa dos nossos sonhos, mas eu temo que quando estivermos diante disso é porque a vida chegou ao final. Sempre vai existir um incômodo. Enquanto o ar entra e sai dos nossos pulmões, é impossível ficar parado.
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