“Nunca falei ‘eu te amo’ para os meus filhos. Fui criado em um meio onde homem não fala ‘te amo’ pra outro homem.”
Recebi uma ligação do meu pai e lembrei dessa resposta do Jair Bolsonaro em uma entrevista na televisão. Compreendo a resposta do deputado.
Conheço uma pessoa que nasceu nesse contexto. Meu pai foi criado em Catingueira, uma cidade do interior da Paraíba. Ele acordava às 04 horas da madrugada durante a infância para trabalhar. Provavelmente nunca escutou um “Te amo” do meu avô.
Sou o seu único filho homem e durante toda minha vida, também nunca escutei um “Eu te amo”. O tempo passou e a ausência daquelas palavras me tornou um menino inseguro. De mim. Do amor. Do meu lugar no mundo.
Em uma aula da faculdade sobre relações de paternidade, uma professora me ensinou uma coisa que guardo até hoje:
“- A gente só pode dar aquilo que tem. É injusto exigir uma postura que a pessoa não aprendeu a desenvolver durante a vida.”
Esse aprendizado me ajudou a ressignificar a relação com o meu pai. Baixei a guarda e parei de esperar. Comecei a desenvolver um olhar compreensivo sobre a história dele. Fiz terapia e Constelação familiar. E assim, segui a vida com mais tranquilidade.
Hoje, vejo o quanto eu e meu pai somos diferentes. Temos poucos assuntos em comum. Ele continua sendo o mesmo homem de poucas palavras. Nossas ligações semanais não duram mais de um minuto. Mas, de uma coisa ele não abre mais mão no fim da ligação: “Meu filho, painho te ama.”
Ouvir sua voz dizer isso no intervalo do almoço de hoje, me faz celebrar a esperança, de que cada pai pode assumir a coragem de romper com a cultura imposta, para deixar o coração falar mais alto.
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