Relacionamentos não podem ser um jogo de querer, onde quem demonstra mais, vence. Quando colocamos a vontade de estar junto sob essa perspectiva, perdemos o fio da meada. Abrimos mão de um possível encontro por uma migalha de carinho qualquer, num dia qualquer. Os apaixonados que me desculpem, mas o amor não é uma aposta.
É triste perceber que os amores já não carregam a mesma importância. Se antes, abraços, beijos e outras sinfonias românticas embalavam os apaixonados, hoje o que vemos é um distante desvencilhar entre quatro paredes. Os desencontros estão mais vivos do que nunca. Os dissabores, estes, cada vez mais constantes. Porque ninguém parece ter paciência para ouvir. Porque ninguém parece ter coragem para dizer. E nesse samba descompassado e líquido, o amor anda dando de cara no chão na primeira tentativa de sobressair-se frente a multidão. Nas conversas estabanadas, os apaixonados perdem a linha no quesito sincronia. Empurram-se de um lado para o outro e esperam que a sua companhia esteja ali, na mesma frequência. Mas o amor não é só sintonia. Nunca foi. E tampouco um lançar de dados. Esperar ao acaso que os dados da vida o coloquem nos pés dessa efervescência amorosa é, antes de mais nada, uma arrogância. Porque mesmo sendo necessárias gotas de sorte, o amor é também entrega, escolha e atitude.
Direcionar o coração para algo tão onírico pode parecer algo presunçoso, e talvez seja. Talvez ainda estejamos batendo cabeça para entender como tudo isso funciona. As carícias, a vontade de ficar, os sonhos em conjunto. De repente, tais encontros sejam mitos embutidos por corações que acreditam somente nos finais felizes. Mas, deixando os olhos bem abertos, até os infelizes são capazes de transbordar sorrisos. Mesmo eles, nas mais anestesiadas relações, conseguem encontrar refúgios sentimentais a serem expressados.
Às vezes, os apaixonados não são amor. Quem sabe um estágio inicial do que pode vir a ser, mas não o que de fato é. Almejar a imensidão prolífera do sentir por dois requer calma. É conhecimento das coisas simples e dos instantes não ignorados. Sem amarras ou vantagens previamente construídas, o descaminho dos futuros amantes deve ser pautado na sinceridade. Os apaixonados que me desculpem, mas o amor não é uma aposta. O amor é vivência.
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Interessante.