Todas as coisas têm um peso. E o peso das coisas é constituído por sua dimensão real e também pelo valor que atribuímos a elas. Uma situação que seja pesada em sua natureza e impacto emocional, pode nos exaurir as forças psíquicas. Mas, ao mesmo tempo, essa mesma situação pode vir a ser uma inestimável oportunidade para aprendermos a relativizar os danos e absorver daí alguma leveza.
Leveza é aquela paz que vem da certeza de se ter dedicado o melhor possível para que qualquer projeto, relacionamento ou sonho viesse a dar certo. Leveza é algo tão relativo, quanto palpável, à medida que retira das coisas doídas e dos tropeços o peso extra da culpa, da mágoa ou do arrependimento.
Há histórias em nossas vidas que dada sua natureza pouco sofisticada ou dramática, ficam relegadas ao porão das nossas lembranças. Histórias sem compromisso, mas que se encaixadas umas às outras, formam a nossa rede de memórias afetivas. Um banho de chuva numa tarde qualquer. Uma troca de sorriso com um desconhecido no trem. Uma música querida que tem o capricho de tocar bem na horinha em que a gente liga o rádio. Histórias simples, pouco relevantes, mas que têm a maravilhosa propriedade de nos ajudar a formar um repertório emocional de energia e resiliência, a fim de nos tornar mais fortes, ao mesmo tempo em que nos humaniza.
Por outro lado, temos uma tendência quase patológica em dar às tragédias e misérias um lugar de destaque, quase um trono de dor. É perigoso demais apegar-se às coisas que deram errado, às situações constrangedoras, às pessoas que abusam da nossa boa vontade. É um risco enorme achar-se o centro do mundo, o responsável por resolver os problemas de todos em volta. Isso é de uma arrogância tão tola, quanto exagerada.
A vida já vem com sua cota de desafios, e testes e provas. O que é meu, não tem como você carregar e vice-versa. Há experiências que são intransferíveis, e são exatamente essas que nos fazem únicos e que nos amolecem um pouco, a ponto de nos tornar capazes de ao menos não dar as costas, quando o problema não é nosso. E também, são essas mesmas experiências que nos fazem mais resistentes aos arranhões ou cortes profundos das frustrações, perdas e fracassos.
Assim, mesmo que você não possa carregar o que é meu e eu não possa carregar o que é seu, nós podemos aprender a dividir o peso. O mundo não cabe em uma mochila, assim como os sonhos não cabem todos numa única noite, assim como os amores não cabem todos numa única pessoa. E se a gente aprender a dividir cargas e sonhos, tendo a humildade de reconhecer que não somos onipotentes. Se a gente entender que há amor em nós para toda a gente, a vida há de ser mais bonita e a leveza há de deixar de ser vista como tolice ou irresponsabilidade, e passará a ser o peso que optamos por não carregar nas costas.
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