Outra vez cheguei atrasada, errei o caminho, comi errado, fumei cigarros demais. Falei pelos cotovelos de segredos não meus, fugi da quinta academia, comprei roupa para depois caber-me, paguei com dinheiro que não tenho. Outra vez esqueci de ser grata, falei que amava quem nem conhecia, bebi demais, outra vez incapaz de dar-me limites.
Outra vez acordei sozinha, protelei minhas plantas, fui seca com o porteiro, menti sem necessidade, me justifiquei pra quem nem se importava. Outra vez antecipei as escolhas, deixei de ser culta para ser preguiça, outra vez descontei na comida.
Outro dia sem grandes conquistas, quando dentes limpos, roupas sujas. Quando roupas estendidas, cama por fazer. Quando cama em branco, cabelos por lavar. Quando me senti mais bonita, ninguém notou. Outra noite com comida de plástico, bebida de caixa, louça suja vitoriosa, imponente. Quase que um outro país. Outra noite dormi tarde demais, acordei atrasada, nenhuma conquista.
Peguei a roupa que não me cabe, os sapatos que me deram sem amor e saí ouvindo a música já mil vezes repetida. Na bolsa me observa o livro que não leio solitária e bonita pela janela do metrô. Outro dia de trabalho, adoece mas paga as contas, compra meus remédios e etiqueta minhas comidas. E a vida se vai, falha, errante, desconexa, débil de sentido, colérica, engordativa.
E eis, que uns dias estou à beira da deriva, à véspera do choro, e algo bonito me acontece. Encho-me de sentido, frio na barriga, apaixono-me de novo. Comerei para celebrar. E é aí que percebo que a vida nada mais é do que tédio bordado, vezes de dor, vezes de doçura; vezes de amor, outras de loucura; vezes de futilidade, outras de solidão; vezes de perder o sentido, outras de encontrá-lo.
Outra vez cheguei atrasada, errei o caminho. Talvez amanhã. É. Quem sabe amanhã vive-se direito? Hoje, não deu. Beberei a isso, fumarei a isso e comerei para não beber de estômago vazio. Enfim, algo certo.
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Divino!
Nossa!! Sensacional, doído e real...
Uau !! Me descreveu perfeitamente