Categories: Jéssica Pellegrini

Fingir não te amar, foi a coisa mais difícil que eu já fiz.

As reticências não tem fim…

Antes de você pegar no sono, eu fiquei te olhando com uma cara de boba apaixonada. Eu desejei passar as mãos no seu cabelo, mas fiquei com receio de te acordar. Eu sorri escondida, sem você me notar. Eu admirei todos os seus traços, derrapei nas suas curvas e me perdi em cada uma delas. Eu desejei que aquele momento nunca acabasse, que as horas não passassem, que o relógio, simplesmente, quebrasse. Eu te roubei para mim, sem nunca te tocar. Eu te beijei em pensamento, senti os seus lábios e descobri o seu corpo em imaginação. Eu reparei em todas as suas imperfeições, mas isso me encantava ainda mais. Eu descobri a sua rotina, cuidava em oração dos seus passos e te protegia sem nem, ao menos, sair do meu quarto. Eu queria você para mim, mesmo com todas as nossas diferenças, mesmo sem saber se você, ao menos, era um partido interessante. Eu não te conhecia direito, e isso me instigava. Eu deveria ter te contato tudo isso antes, afinal, agora você já está dormindo.

Talvez, seja tarde demais para te dizer tudo o que eu senti, algum dia, por você. Que o meu sangue fervia te vendo passar, quando, por um acaso qualquer, os nossos olhares se cruzavam no meio do caminho. É tarde demais para dizer que você colocou sentido na minha vida. Organizou a minha bagunça. Mudou os móveis de lugar e arrebatou o meu coração. É tarde demais para dizer que você nunca precisou fazer esforços para me conquistar, você já latejava em mim e eu não entendia que isso era amor. Você me desconcertava, tirava o meu cansaço e tinha toda a minha atenção, mesmo sem nunca ter percebido. É tarde demais para te agradecer por tudo, voltar no passado e te dar um abraço bem forte. É tarde demais, para gritar o seu nome, cantar a sua música em voz alta e dançar o seu ritmo, sentada na cadeira. É tarde demais para dizer que tudo mudou, que você participou do meu amadurecimento e nem, sequer, poderia fazer noção alguma disso. Eu também acabei de descobrir.

Dizer, com um tom suave e delicado, que a sua beleza era estonteante. Que os seus defeitos poderiam, sim, serem revertidos em qualidades. Que plantar o bem te tornaria um ser humano melhor, que a luz no final do túnel é uma libertação das mais variadas dores. Que todos nós temos problemas, nos decepcionamos, nos frustramos e precisamos aprender a lidarmos com os contratempos que aparecem. Que a fraqueza também se faz presente para os fortes. Que chorar faz parte, mas sorrir é ainda melhor. Te dizer, que a sua alegria poderia ser compartilhada com os desamparados. Que nem sempre o caminho mais fácil e rápido, é o correto. Que errado é acovarda-se, porém, estabelecer um equilíbrio pessoal é fundamental. Dizer, que eu nunca te tive, mas eu sempre te mantive na minha ilusão.

Você não sabe, nem eu sabia, mas eu te amei todos os dias. Eu te amei, enquanto você sorria e eu te reparava discretamente. Eu te amei, quando passava perto de você só para sentir o seu perfume. Eu te amei, em várias noites enquanto eu te imaginava e a insônia me acompanhava. Eu te amei, enquanto você estava nos braços de outra pessoa. Eu te amei, quando você desabafava que deu tudo errado, mesmo eu torcendo para você ser feliz. Eu amei até o seu avesso, que todos te julgavam. Eu amei as suas fugas diárias do peso do mundo, suas falhas, suas faltas, seus receios, seus machucados, seus fardos com pesos difíceis de serem suportados. Eu amei a sua cara amassada e o seu cabelo bagunçado logo de manhã. Eu amei os seus vazios e quis me moldar em cada um deles, para ver se eu conseguia preencher os seus espaços em branco existentes. Eu amei o seu choro abafado e a sua esperança curta em instantes que pareciam não ter fim. Eu amei você, e tudo o que te forma. Tudo o que te desfaz e depois refaz, tudo o que você trouxe e tudo o que você carregou consigo. Eu sempre te amei, desde que te conheci. E não existirá um dia, daqui em diante, que eu deixarei de te amar.

Eu achei que fosse miragem ou loucura da minha cabeça, mas agora vejo que é realidade, nua e crua. Logo eu, uma pessoa sensata e admirada pelo outros, estou perdida. Então, eu afirmo que é tarde demais para te falar sobre mim, contar tudo o que sei sobre você e tentar desatar os nós. Nascemos e morreremos singular, nesse caso, não existirá o plural. Passou-se muito tempo, mudaram-se as estações, vontades e prioridades. Eu tinha tantas revelações para você, que mesmo quando você foi embora, eu não falei nada. Costumam dizer que eu tenho o dom de falar a coisa certa, no momento exato, mas acho que estavam errados. Eu me perdi no meio de tantas palavras, que acabei me despedaçando no meu próprio silêncio. Algumas coisas voltam, já outras não. E a única lição que eu tiro disso tudo, é que tudo teve seu motivo para ter sido dessa maneira.

Eu te sonhei tanto essa noite, que amanheci na solidão…

E uma parte de mim, morreu quando eu deixei você ir.

Jéssica Pellegrini

Nunca confie em uma escritora confusa e romântica. As controversas entre um texto de amor e outro de desilusão, podem causar questionamentos pessoais. Consequentemente, sequelas mais graves.

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  • Eu estou me sentindo tão representada. Cada palavra tem um toque de melancolia que se entrelaça a minha.
    Obrigado, eu sou muito grata por isso.

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Jéssica Pellegrini

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