Não sei direito se é só porque tô aqui à toa lendo um monte dessas coisas cheias de sentimento. Não sei se é porque eu ainda to diluindo toda a vodka importada que bebi noite passada. Não sei se é porque fazia tempo que eu não sentia assim, o coração na mão, aquela esperança estranha que vai abraçando a gente. Eu já abri o chat umas duas ou três vezes, faltou coragem porque quando é pra falar a verdade o peito palpita e a gente perde o jeito, o discurso. Tem coisas que a gente só tem coragem de dizer pro papel.

Teria sido mais fácil se eu tivesse esbarrado em você por acaso, mas não foi. Te vi no meio de um tanto de gente, perdi até o roteiro que eu vinha decorando. A gente diz que tá, mas não tá preparado pra se apaixonar assim dessa forma, desse jeito meio aos poucos, meio de uma vez só. É uma história daquelas pra nenhum Manuel Carlos botar defeito, teve cena de beijo, teve até plateia mas eu sei que a gente nem queria aplauso. Foi teu olhar que me atravessou, me virou do avesso, mas foi essa liberdade que você transborda que estalou aqui, falei baixinho, “É isso que eu quero pra mim”.

Você é um ser improvável, é o mundo, é incontrolável, mas eu já disse que tenho paciência, que to preparado pra aprender a amar desse jeito despretensioso. Eu que tinha medo de altura te vi um penhasco, nem pensei em frear pra aliviar a queda, eu me joguei. Talvez você nem saiba mas renovei a minha fé quando dei de cara em você, tão menina, tão meiga, tão profunda, carrega dentro de si um punhado dessas coisas que eu lia nos livros e queria trazer pra vida.

Eu preciso de você, não é como quem quer a posse, não é como quem quer um vício embora o gosto da sua boca ainda passeie aqui quando fecho os olhos. Eu preciso de quem você é, de toda essa verdade. É você, você que destoa dessa gente cinza, que me fez parecer uma criança inocente brincando descalço na grama, é aquela felicidade simples que deixa a gente mansinho.

Eu escrevi tudo isso encontrando uma maneira de ficar mais tranquilo, e fiquei, vim até aqui pra compreender que é isso mesmo, que não é a ressaca ou o ócio, que você é mesmo tão singular, que é mesmo difícil de tirar da cabeça tudo isso que você é. Esses olhos escuros parecem o céu durante uma noite de lua nova, tem uma imensidão que a gente nem consegue imaginar, mas fica ali, não precisa explicação, só achar bonito e sentir o coração quentinho.

É que a gente é parecido, tem esse espírito livre que assusta as pessoas, é que cabe em nós todos os sonhos do mundo, é que a gente quer experimentar tudo da vida sem essa pressa, é que a gente é intenso e vive nesse paradoxo entre ser carente e desapegado. É que a gente tem sede, é que a gente se encaixa. É que não ia caber outra pessoa nessa história que escrevi, hoje tem alguém que cabe, é você!

Giovane Galvan

Giovane Galvan é taurino, apaixonado e constantemente acompanhado pela saudade. Jornalista, designer, produtor e redator, escreve por paixão. Detesta futebol e cozinha muito bem. Suas observações cotidianas são dramáticas e carregadas de poesia. Gosta do nascer e do pôr do sol, da noite, mesas de bar e do cheiro das mulheres pra quem geralmente escreve. Viciado em arrancar sorrisos, prefere explicar a vida através de uma ótica metafórica aliando os tropeços diários a ensinamentos empíricos com a mesma verdade que vivencia. Intenso, sarcástico e desengonçado, diz que tem alma de artista. Acredita que bons escritos assim como a boa comida, servem de abraço, de viagem pelo tempo e de acalento em qualquer circunstância.

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Giovane Galvan
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