“Você tem que aprender a levantar-se da mesa quando o amor já não está sendo servido” Nina Simone
Você tem que aprender a levantar-se da mesa quando, ao invés de riso, brotam lágrimas em seu rosto; quando, ao invés de flores, nascem espinhos em sua alma; quando o outro desconhece a palavra respeito e insiste em machucar.
Devemos nos retirar da mesa quando a amizade deixa de ser leve, o amor torna-se um fardo e a convivência, conflitante. Quando dispomos do nosso tempo, amamos e juramos ter feito “de tudo” e, mesmo assim, o outro insiste em se levantar da mesa e nos deixar ali sozinho.
Quando o outro dá as costas para as nossas dores, sem ao menos querer saber dos nossos porquês. Quando você insiste em fazer dar certo, enquanto o outro deseja por um fim. Quando você se pega questionando o que fez de tão errado e não encontra respostas para os teus porquês. Devemos nos levantar da mesa quando o amor não está sendo servido, quando a amizade nos sufoca e o “amor” nos prende.
Quando a gente sente culpa mesmo não tendo, quando a gente se vê como erro mesmo sendo acerto. Devemos nos retirar, quando o outro persiste em usar da sua indiferença para nos atingir e, então, aquilo nos atinge de forma certeira, como alguém que tem uma boa mira.
Devemos aprender a levantar da mesa e nos retirar não como quem vai até a cozinha e troca o cardápio, mas como quem não quer mais pisar esse território, porque sabe que ali o café esfria rápido, o pão de queijo não é quentinho e o bolo de cenoura não esbanja aquela calda de chocolate de que você tanto gosta.
Devemos aprender a não aceitar pouco e isso não é egoísmo ou exigência, isso é o mínimo que merecemos. Nós merecemos, sim. Ninguém quer um amor pela metade, ninguém quer insistir em uma amizade que insiste em não ser.
É difícil ter que puxar assunto o tempo todo, arrumar conversa para manter contato, levar incontáveis nãos por motivos quaisquer. É difícil ser amparo para quem não quer a nossa proximidade, ser atenção para quem a despreza o tempo todo.
Devemos nos retirar depois de tantas insistências, depois de tanto querer acertar, depois de tanto tentar entender os motivos, de quebrar a cabeça em busca de uma resposta que alivie aquela angústia que chega a apertar o peito.
E, então, depois de engolir tantos sapos, depois de tentar ajeitar o cardápio, mudar os ingredientes e requentar o café, a gente deseja pão de queijo quentinho, bolo de chocolate com muita calda e um chá que aqueça a nossa alma. A gente cansa de abraços frios, “ois” esporádicos, sorrisos disfarçados, de gente que insiste em nos afastar o tempo todo com a sua indiferença constante.
A gente cansa de sofrer, chorar e mostrar para o outro o quanto somos bons. Um amor sobrevive às tempestades, mas não sobrevive às friezas insistentes que congelam os nossos afetos e nos deixam impotentes. Uma amizade sobrevive aos tempos nublados, mas não sobrevive, se um quer vendaval, enquanto o outro, calmaria.
E a gente precisa aprender a se retirar da mesa quando o amor já não está sendo mais servido, não por egoísmo ou falta de tentativas, não como quem desiste do amor, mas como quem o deseja e que de alguma forma não o encontra ali, afinal, reciprocidade é tudo em uma relação.
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