Uma passagem para a Lua e uma estadia por tempo indeterminado. O que há de errado nisso? Todo mundo deveria fazer essa viagem de vez em quando para acertar o balão de oxigênio e respirar melhor.
Como assim viajar para a Lua? A Lua é um lugar bem acessível, pode estar no seu quarto, na sala de estar da sua mãe, na casa de praia, no sítio silencioso do seu melhor amigo. A lua pode estar em qualquer canto onde sua paz chegue sem GPS.
Precisamos não só aprender a lidar com a solidão, mas mudar nossa forma de percebê-la. Como é a solidão para você? Um lugar cinza e escuro onde você foi jogado sem dó nem piedade? Ou um momento importante para reciclar pensamentos, crenças, sentimentos e até sonhos? Se você escolheu a primeira opção, sinto muito, mas ninguém colocou você lá, ok? Você chegou com seus próprios pés.
Sim, talvez você não entenda o que estou dizendo. Mas eu posso garantir (por experiência própria) que essa visão da solidão só existe se você quiser, aliás, você cria esse sentimento triste e possivelmente se culpa inconscientemente por isso. Bom, isso é papo para outra coluna. A dica é: fuja desse lugar, não é um local seguro e a felicidade não frequenta esse ambiente.
No entanto, se você acha que a solidão é apenas um momento necessário para enfrentar seus medos de frente, naquele quarto onde apenas você e eles acertam as contas, só posso dizer: Que bom! Eu adoro esse lugar.
Quando a gente descobre que essa é a melhor forma de se reciclar, meu amigo, tudo fica mais leve. Alguns dias (ou o tempo que for necessário para você) em silêncio, quietinho no seu canto, focado única e exclusivamente no que tem aí dentro é uma viagem valiosa e o melhor de tudo: custa baratinho, quase nada.
Reciclagem é uma palavra muito importante para que a nossa vida siga um fluxo de evolução. Necessitamos das transformações para vencermos obstáculos, aprimorarmos nosso coração, corrigirmos erros e entendermos como nossos sentimentos estão se posicionando. Acredite, isso acontece por bem ou por mal. Se você não buscar, esse momento chega duro e te derruba. Que seja por bem, né?
O primeiro passo que dei foi mudar minha visão de solidão e aceitar que me coloco no lugar que desejar. Ah, sobre essa fase: contei com ajuda de amigos preciosos e ferramentas que fui aprendendo a utilizar aos poucos, aos trancos e barrancos, mais barrancos do que trancos. Aliás, obrigada aos amigos responsáveis por isso (e às quedas que me ensinaram como levantar com dignidade).
Entendido isso, olha que coisa, ficou tudo muito mais fácil, pois percebi que a lua era um lugar possível para mim. Toda vez que destinava um tempo para essa viagem algo muito bom acontecia aqui dentro que mudava o cenário de fora. Mudança de dentro para fora, sabe? Não é conversa para boi dormir, viu? É na profundidade da gente que as coisas se reciclam. “O mundo muda quando você muda”, quem disse isso mesmo?
Vez ou outra arrumo a mala e me mando para esse passeio. Aliás, cada vez mais e mais me dou esse direito (e presente). Chego na expectativa de voltar melhor e trabalho duro para isso. Revejo tudo o que sinto, penso, falo, faço e também quem anda comigo. Desfaço as amarras que o tempo constrói e deixo que as amarguras se debatam sozinhas e cada vez mais longe de mim.
Esse é um dos segredos da vida. Entre tantos, veja bem, talvez seja o mais especial. É na lua que os nós se desfazem e o brilho nos olhos se refazem. Não se preocupe com o que levar, você só vai precisar de uma coisa: coração aberto para mudar o que for necessário. Ninguém carrega certas culpas porque quer, sei muito bem disso. Porém, hoje sei ainda mais que elas só permanecem vivas se você estiver cômodo na posição que você mesmo se colocou.
Caso contrário, acredite, esses sentimentos ruins vão embora porque nunca nos pertenceram. Meu anjo da guarda sempre me ensinou a não pegar o que não é meu e a devolver os reflexos que as pessoas criam de si mesmas e sobrepõem em cima da gente. Meu anjo da guarda tem nome e sobrenome, um dia vou fazer uma coluna sobre ele, muito embora ele esteja em quase tudo o que faço.
Meu coração é azulzinho feito o céu, tem cheiro de flor do campo e uma vontade indescritível de se redimir, se perdoar, se reciclar. Não posso mudar o mundo, muito embora quisesse muito. Porém, hoje sei que o poder mais incrível que tenho é o de transformar a mim mesma.
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