Aprendi a apreciar minhas cicatrizes. Não porque acho que ficam bem em mim, mas pelo fato de me ensinarem todos os dias o jeito certo de lembrar delas. Passamos muito tempo reclamando das dores que tivemos, dos lamentos que fizemos, das tristezas que já sentimos. Fizemos (e, às vezes, ainda fazemos) das feridas cicatrizadas motivos reais para sentirmos pena de nós mesmos.
Como se sentir pena fosse uma forma de amenizar a dor. Doce ilusão, meu amigo. A pena é mais um jeito de gritarmos para o mundo o quanto não acreditamos na nossa capacidade de reagir. É como se o nosso coração parasse devagar e nós, os donos desse órgão precioso, ficássemos a chorar a sua morte sem relutar um segundo sequer.
Para quem descobre como é bom viver, acredite, ficar parado seria a última possibilidade. Um dia aprendemos que nossas cicatrizes não são apenas marcas na nossa alma, mas a prova concreta de que nós sobrevivemos. Ser guerreiro nessa vida não é chegar lá sem machucados, mas saber percebê-los como valiosas medalhas de ouro.
Todos nós esfolamos o joelho nessa brincadeira louca que é viver. Arde pacas, sangra, lateja e a sensação é de que a ferida vai ficar aberta para sempre. Às vezes, você sabe bem disso, podemos enxergar o “osso” de tão profunda que é. Há quem diga que a ferida na alma é mais ardida que a ferida na pele, alguém é louco de duvidar disso?
Voltando ao ponto central deste texto, quero dizer que é possível mudar a forma de ver o que passamos. Parceiro, se cicatrizou foi porque você passou por mais essa e sabe de uma coisa? Agradeça por tudo isso, afinal de contas, se você caiu e levantou foi porque se permitiu o impulso.
O impulso nada mais é do que a vontade de dar a volta por cima. Ele nem sempre vem de forma espontânea e normalmente fica encurralado pela força da pena. Precisamos colocar as nossas garras de Wolverine e buscá-lo com unhas e dentes. De quebra ainda temos a oportunidade de dizer poucas e boas para a autopunição.
Pena é uma forma dolorosa de autopunição, não tem outra forma de classificá-la. É aquele jeito que achamos de nos bater um pouco mais para doer ainda mais forte e, assim, quem sabe, alguém se compadece e arranca a gente do buraco. Outra ilusão, pois se não retirarmos o impulso daquele lugar escuro, pode ter certeza de que quanto mais alguém tentar nos tirar do buraco, mais vamos entrar fundo nele. É um círculo vicioso, entende?
Sinceramente? Vamos voltar ao que interessa: as cicatrizes da superação. Vamos colocar nossas marcas no mural das guerras que vencemos e mostrar ao mundo que somos mais fortes do que a dor que sentimos um dia. É desse jeito que podemos subir ao pódio agradecidos pela experiência que tivemos (se realmente soubermos aproveitá-la, é claro).
No quadro das minhas cicatrizes tem marcas de todos os tamanhos e jeitos. Tem muitas delas que fiz lá no início de tudo. Acontece que só depois de grande entendi que o lugar delas não era mais dentro de mim, mas fora para que eu pudesse enxergá-las e respeitá-las como adversárias fortes, especialistas em golpes dolorosos e rasteiros, mas que não foram capazes de me derrubar.
Estou aqui, de pé, ainda que algumas marquinhas ainda repuxem nos dias de chuva. Sinto o músculo puxando, se contraindo, e quando percebo que estão tomando conta de mim dou jeito de mandar eles para o quadro: “vocês não me pertencem mais e o lugar de vocês é aqui fora, presos nesse santuário da superação”. Aprendi a ter orgulho das minhas cicatrizes quando vi que sem elas jamais seria a pessoa que sou hoje. E mesmo que ainda falte muito para me tornar o ser humano que desejo, de uma coisa tenho absoluta certeza: estou no caminho certo.
Quando a gente aprende com os tropeços e joga as cicatrizes para qualquer lugar que não gere peso nas nossas costas, meu amigo, fica muito mais fácil viver. Não, isso não é garantia de que nunca mais vamos despencar morro abaixo. Ainda caio de cara no chão, esfolo o nariz, choro feito criança e deixo que doe o que tiver para doer. Acredito que ainda não aprendi a cair, mas certamente já sei levantar, e faço isso muito melhor do que ontem. E sabe? Farei ainda melhor amanhã.
Meu santuário da superação é um lugar bonito. Coloquei uma porção de flores nele só para lembrar que junto das quedas que tive, também plantei um monte de sementinhas valiosas que hoje dão aroma e cor para a minha vida. Entre trancos e barrancos, dores e joelhos ralados sempre me sobrou a vitamina que me alimenta todos os dias: a minha coragem.
Com certeza ainda terei de aumentar o quadro onde guardo minhas feridas cicatrizadas. Não me importo, posso construir uma parede do tamanho do mundo, desde que todas elas caibam e possam me servir de inspiração para viver sem medo de cair de novo, e mais uma porção de vezes. Minha certeza é uma só: Não importa o tamanho da queda, pois aprendi a me levantar, me reerguer, me restabelecer e recomeçar tudo de novo quantas vezes mais a vida quiser testar minha força.
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Ju!!!
O que você escreve sempre toca em mim!
Obrigada!