Estou no meio. No meio da Lua e de onde você está. No meio de um esquecimento, de uma quarta feira à tarde, no meio da rua e ao extremo de mim. Está tudo escuro e parece que a qualquer momento alguma coisa muito perto vai explodir. Ando pisando em brasa, espinho, cacos de vidro, andam pisando em mim. Eu falo, escrevo, me esvazio, espero, mas nunca passa. Parece que não quer sair. Não sai a vontade de te ver, não sai a vontade de sumir, não me livro de mim. Mais do que correr, cansa esperar. É contraditório eu sei. Mas quando se corre, se para, descansa e se tem onde chegar. E esperar? Se espera, se nega, e não vem. Ventania essa que não passa. Redemoinho esse no meu peito, aperto esse no pensamento. Já estive perdida em um mar de gente e você me encontrou. Simples e rápido. Me carregou no colo, resgatou. Agora estou perdida na solidão e ela esconde mais. Sabia? e eu sei que ninguém vai me achar. Vou ter que sair dessa sozinha e vai demorar um tempinho. Não me sinto em condições de ajudar o tempo, não me sinto em sintonia pra alguém, não me sinto parte daqui. Você me deu tudo e deixou o nada. Por quê? Sei que sempre gostei de extremos, mas nesse caso eu preferia o meio. Preferia você. Você sabe que prefiro dias cinzentos e chuvas no meio da tarde, mas essa tempestade não quer passar. Já construí um barco, me embrulhei num saco, mas me molho mesmo assim. Olho pros lados e não te acho, olho pra frente e no futuro te encaixo, olho pra trás e descubro: você ficou. Estou perdida, realmente estou. Nesse mundo de estranhos que dizem o que não querem dizer e sentem o que não sentem e são o que outros acham que eles deveriam ser, me sufoco. Nenhum deles consegue me entender, riem da minha transparência, rasgam minha pele fina que por qualquer coisa jorra sangue, arrancam meu coração do peito e pisam não uma, mas várias vezes. Alguns dizem que entendem, que vão ajudar, ficar perto. Alguns fingem se importar, perguntam, abraçam. Mas quando preciso, quando quero e não nego… Não estão lá. E dói, dói porque você sempre estava. Dói porque você me achava e segurava minhas mãos e me mostrava o caminho. Eu podia estar perdida, você se perdia comigo pra que eu me sentisse encontrada. Parece que o mundo perdeu o jeito. Comigo não tem nada feito. Estou estragada, em corda bamba, na ponta do abismo querendo pular e a cada dia você, que tanto me puxava, agora me empurra e ninguém vê. Estou sozinha. Atravesso uma multidão e me perco em mim. Tão profunda e densamente que paro. Paro em um lugar qualquer, no meio de algumas pessoas, no meio do mundo e só metade de mim. Ando às cegas, todo toque me assusta, cada olhar me desarma, cada noite me acalma e cada dia me lembra. Você partiu e me deixou perdida, cercada de nada, nado num deserto de mar sem peixe. Afundo num lugar chamado: eu. Converso, me explico, me quebro. Como explicar a alguém que estou partida não em duas, mas em mil? Ninguém entende o fundo escuro e apavorante que há dentro de mim. Ninguém sabe o quanto eu senti e a profundidade com que sinto cada um e cada coisa, ninguém sabe que ainda te resta inteiro aqui. Aos poucos me tento ‘catar’ e te cortar em mil. Mas como cobra viva você se espalha e cresce e se abre em mim. Sinceramente não sei mais o que fazer. Estou no meio. No meio do muro, no meio da vida, no meio pra esquecer você. Estou no meio gritando ‘ei, estou aqui’ e ninguém me vê. Não vê porque quando você foi, involuntariamente me jogou num mar e afundei. Quem vai gostar de mim assim? Quem está disposto a ir tão fundo só pra me resgatar? Eu te respondo: ninguém. Pessoas desistem fácil de mim, eu desisto fácil de mim, mas não de você. O que é isso? Nem quero saber. Só não quero mais esse meio, mais você, menos eu. Quero sair daqui, parar de me perder em mim, ressurgir. Quero tirar você de mim. Foi tão fácil pra você, podia ser assim comigo. Só o tempo cura queijo. Nunca desejei tanto ser um. Dizem que só um amor cura outro. Quem dera me curasse você.
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