Ela apareceu assim, de repente, como quem acha uma moeda perdida no bolso, com a felicidade de acordar e ver um belo dia de sol. O encanto para mim acontece de primeira ou não acontece mais, aconteceu. Era linda, a coisa mais linda deste mundo, tinha um sorriso tão feliz que dava vontade de rir junto.

Então fomos ao cinema, ao teatro, coloquei a minha melhor roupa, vesti o meu melhor pensamento e tentei demonstrar o que havia de melhor em mim. Jantamos inúmeras vezes e gastamos muito. Gastamos tempo, dinheiro e histórias. Estar com quem gostamos não é tempo perdido, mas sim um investimento. Então investimos muito.

Me apaixonei perdidamente e virei idiota. Só quem é extremamente apaixonado faz idiotices por amor, eu fiz todas. Inventei uma surpresa, escrevi uma música, subi no pilar da praça e gritei que a amava, sem medo do que os outros fossem pensar, com a alegria de saber que ela entenderia o meu jeito extravagante de demonstrar amor naquele momento.

Viajamos para muitos lugares, mostrei o meu mundo do jeito que ele era, aquele mundo particular e isolado que eu não abro para ninguém. Conhecemos lugares juntos, vivemos a experiência de descobrir cidades, paisagens e pessoas ao mesmo tempo. Nos tornamos cúmplices da vida e continuamos compartilhando a nossa história.

Abdiquei um pouco de mim, para ser um pouco mais de nós. Troquei alguns gostos musicais, mudei os lugares que frequentava e me afastei de algumas pessoas que me levariam à outra perspectiva naquele momento. Comecei a enxergar a vida do nosso jeito de ser e me acostumei com ele, virou um lugar seguro, um lugar insólito, um lugar nosso.

Criamos planos, sonhos e construímos pequenos objetivos: aquele passeio no final de semana, terminar de ver aquele seriado no feriado e, fazer juntos, aquela janta que vimos na televisão. Conquistamos pequenas vitórias. Brigamos escolhendo qual seria a cor da casa, onde ficaria o sofá e se teríamos um labrador chamado Ted ou um gato chamado Chocolate. Compatibilizamos o sonho para que ele encaixasse dentro de nós.

Um dia, o coração de um começou a bater menos do que o outro. Houve um deslace, um desencontro, nos enganamos. O amor precisa ser testado no supra-sumo da sua essência para ser amor e quando não é amor, ele acaba. Acabou.

Sofri. Chorei duzentas noites e mais quarenta dias. Construí o roteiro perfeito da solidão, reneguei sentimentos alheios, me escondi de abraços vizinhos e me tornei um pouco infeliz. Desfiz os planos, os sonhos e o amor. No fim, o amor é cansativo. Criar uma história e acabá-la é triste. Dói perder, incomoda jogar fora tanto sentimento.

O tempo passa e a vida segue, simplesmente porque tem que seguir. O coração vai se acalmando e a pressa de amar desacelera. O medo de amar diminui, os arrependimentos voltam com menos frequências e a saudade também. Então um belo dia, lá está ela. Alguém, com um belo sorriso e cheio de entusiasmo pela vida, sem medo de amar e ser feliz. Ela era linda. E o encanto é assim, de primeira ou não acontece. Aconteceu.

Respirei fundo e dei risada da vida. Não importa, faremos tudo de novo.

Francisco Galarreta

Francisco Galarreta ajuda as pessoas a desenvolver o seu autoconhecimento e a trabalhar a Inteligência Emocional, grava dicas diárias nos stories do Instagram: @franciscogalarreta

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