Ser criança é um estado de espírito muito mais do que a cronologia do início de uma vida. É a doçura no olhar de um instante de inocência. É a gargalhada que acorda o vizinho. É o som alto na manhã de domingo. Conheci crianças lindas de cinco anos, mas outras ainda mais especiais com 85.
Crianças não ligam para idade, nem para a sua, menos ainda para a do amigo. Criança quer saber do riso fácil, do jogo de mímica, da alegria infinita de brincar. O espírito de criança está dentro daquele que acredita que sonhar é possível, que dá voz aos seus desejos mais malucos como sorvete no inverno, banho de chuva, briga de almofadas e assistir desenho comendo brigadeiro.
E aí ele pode ter 3, 9, 15, 20, 32, 45, 58, 62, 79, 83, 90, 105 anos. Ele só precisa acreditar que é possível ser criança ainda que a barba tenha que ser feita e cuidar da casa já seja obrigação. Você pode ter passado por muita coisa nessa vida, ter cometido erros e até ter feito alguém chorar. Somos seres humanos passíveis dos mais nobres e dos nem tão bons assim. Acontece que a gente cresce.
Quando buscamos ser melhores na nossa caminhada é que conseguimos ser crianças serenas mesmo quando adultos. Quando falo do riso fácil, é riso fácil mesmo! Da florzinha que nasceu, do sol que veio tinindo, da lua que posa no céu como uma estrela de cinema. Crianças grandes acham graça disso. Se emocionam, compartilham, pulam no meio da rua com uma boa notícia.
Pular corda, chutar a bola, correr da própria sombra, fazer os amigos rirem daquela piada sem graça. Amar sem limite, fazer birra, beiço, chorar ao perder a hora do cinema, a carona, o lugar na fila. Bobagens que já nem fazemos mais.
Ser criança é sorrir sem pensar se outro devolverá a gentileza, é esconder o chocolate para comer sozinho ou distribuí-lo entre os vizinhos. Ser criança é errar a letra da música, é errar três vezes a senha do banco, é aceitar que algumas coisas acontecem sem que a gente possa escolher se quer ou não. Se aguenta ou não. Se será bom. Quem vai saber?
Criança não pensa no futuro, aliás, até pensa, mas é no futuro do presente que elas vivem. O agora e os próximos minutos da batalha final daquele jogo super legal que você disputa com seus amigos. E se perde fica chateado, emburra a cara, sai de cena. E logo volta feliz da vida! Não porque sabe perder, mas porque não perde tempo com o que já passou. Sacou?
Criança grande, criança bebê, criança! Qual criança habita em você? Deixa que viva, que seja, que tenha! Deixa que sonhe, que ame, que venha! “Criança feliz, feliz a cantar”, já ouviu essa? Pinte o céu de qualquer cor, amarelinha, pipoca e mãozinha dada no filme de terror.
Criança que roda o vestido, que pinta a cara colorido, que chora baixinho ou que abre o maior berreiro. Criança que brinca no escuro, que pula do muro, que fala um montão de palavrão sem receio quando bate o cotovelo. Caceta, como dói! Ai, ai, ai!
Ri de qualquer coisa, se joga de coração, toca a mão na nuvem mais alta, doa, empresta, compartilha e salva o coração (e a alma). Criança que faz a diferença pelo simples fato de não perder a esperança de continuar criança quando o mundo todo já cresceu. Criança, criança, criança! Não deixe a sua no altar. Altares são para contemplação. Criança é para existir no chão, com o pé na terra, a roupa ensopada do banho de chuva, bunda suja de tanto rolar na areia. Nemo, pokemon, sereia!
Não desperdice a hora de ser criança, pois ela passa voando quando o tempo obriga a gente a virar grande. Tempo, faz isso não. A gente faz direitinho lição, mas na hora do recreio deixa rolar a confusão. Combinado? Eu, você, o mundo inteiro de confete na mão.
Bobo é quem não acredita que é possível ser criança em qualquer idade da vida. Bobalhão é quem duvida que a criança livre mora dentro do coração. Pode ficar escondida, mas morrer? Morre não!
Deixa sua criança falar mais alto quando o arco-íris ficar colorido. Sem vergonha, sem medo, sem preconceito de parecer ridículo. A criança que eu sou quer conhecer a criança que você é. E a gente vai brincar junto, pode crer! Agora me conte que cor é a sua fantasia! Marujo, padre, rainha? Chaves, príncipe, Saci-Pererê?
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