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E se quisermos viver um amor da Disney?

Praticamente todos nós já lemos alguma vez sobre não esperar perfeição dos outros, sobre os filmes da Disney, que apenas contribuem para nossas frustrações, pois crescemos com o pensamento de um amor idealizado e que ninguém é como os famosos “Príncipes da Disney”.

Espere aí, eu sou.

Quando eu gosto, eu faço qualquer coisa para deixar quem amo feliz. Por quê raios eu não esperaria que alguém pudesse fazer o mesmo por mim?

Ficar sozinho um tempo nos ajuda a refletir melhor sobre essas questões.

Muitas vezes estamos acompanhados de pessoas que não nos dão atenção o suficiente, que não se esforçam por nós, que não nos ajudam nem com um palpite em nossos problemas, que decidem fazer outras coisas a ficar conosco mas que dizem que nos amam, e nos contentamos com a palavra.

O que temos que entender é que a ideia de amor é diferente para cada pessoa. E que a mesma pessoa que diz que nos ama, mas prefere sempre jogar futebol, pode sim pensar que nos ama, mas na verdade, não sabe amar. Da mesma forma, que pode saber que não nos ama, mas preferir dizer que ama para não perder a conveniência de estar conosco… Podem ser muitas coisas.

O que mais fazemos quando nos relacionamos, é tentar entender aquilo que não foi dito. Hoje, sóbria de amores, penso:

Por quê perder tanto tempo tentando entender o que não foi dito e depois dar tanto valor às palavras?

Sabem por quê? Eu tenho a resposta. Porque nossos cérebros, querendo nos proteger da realidade e evitar nosso sofrimento, buscam sempre uma saída para aquilo que nos incomoda.

E então nos vemos na seguinte situação, criando desculpas para nós mesmos afim de que evitemos a realidade:

“Ah, ele(a) é distraído(a).” (Mas no fundo, queria ter seu aniversário lembrado)

“Mas ele escreveu que me ama, olha só, vou printar e te mandar, miga.” (Mas à noite chora por sentir falta de um namoro mais vivo, mais empolgante)

“Ela me ama, tá apaixonadinha, olha só cara. Sou o melhor do mundo” (Mas em casa fica angustiado esperando mais atitudes dela)

E assim nos contentamos com migalhas de palavras que não condizem com a realidade.

Se você sente que seu relacionamento poderia ser mais, é porque provavelmente está sendo menos sim.

E é aí que entram os críticos da Disney, que tentam nos convencer de que aquelas histórias perfeitas são ilusão, nos vendendo uma outra ilusão: a ilusão de fingir estar feliz e agradecer pelo que temos porque nunca iremos achar alguém perfeito e romântico.

Isso é ou não é outra ilusão?

Quem nunca se viu na situação de pensar que, se fôssemos os nossos parceiros, faríamos tantas coisas pelo bem da relação, faríamos tantos carinhos, surpresas e agrados? Se nós pensamos em fazer isso tudo, os outros também podem pensar. Por quê raios não pensariam?

Às vezes até pensam, mas não o fazem porque temem serem julgados de “fracos” pela sociedade.

Temem a rejeição.

Temem a não reciprocidade.

Temem a superexposição do seu íntimo.

E por medo, deixamos de ser os ‘Príncipes da Disney”… E sim, como mulher também me encaixo na definição de “príncipe” porque o amor deve ser igual para os dois sexos. Não é somente a mulher que deve ficar no salto, esperando que todos os homens se abaixem aos seus pés. Isso sim é uma construção machista da sociedade. Como se o fato de a mulher mostrar o que pensa e o que quer fizesse dela deselegante, fácil ou menos feminina.

Todos nós podemos e devemos ser os “Príncipes da Disney” e digo o porquê:

Porque nossa geração desistiu do amor.

Porque nossa geração pensa que diversão só vem com o álcool.

Porque o álcool potencializa sentimentos que não somos mais capazes de sentir dentro do mundo individualista a que estamos inseridos hoje em dia e, se o sentimos bêbados, caso dê algo errado em sermos quem na verdade somos, podemos mentir para nós mesmos e para o mundo de que aquele “papelão” foi apenas “o efeito do álcool”. Drogas e álcool são fugas de uma realidade onde temos poucos sentimentos que nos preenchem. Se tudo está bem, para quê buscar outra realidade? (Não me refiro aqui à possibilidade de dependência, mas apenas ao comportamento geral da sociedade)

Porque as pessoas aprenderam que amar é trocar meia dúzia de conversas superficiais, acelerando tudo e vivendo amores fáceis que terminam num prazo de 10 dias.

Porque o sexo ficou banal.

Porque essa banalidade nos trouxe solidão.

Porque dormir uma noite com alguém e ir embora no dia seguinte, sem saber quando conversarão novamente, causa mais sofrimento do que ficar acompanhado de si em casa.

Porque foi ensinado para os homens que quanto mais mulheres ficarem, melhor.

Porque foi ensinado para as mulheres, que quanto mais parceiros tiverem, pior.

Entendem como a lógica não bate?

Somos a geração do desamor dentro da sociedade da correria e da pressa.

Dentro da sociedade onde todos têm de ser os mais espertos.

Dentro da sociedade onde demonstrar sentimentos é fraqueza.

Dentro da sociedade do “cada um por si, minha carreira primeiro”.

Dentro da sociedade da desconfiança.

Dentro da sociedade da traição em um clique.

Do fim do relacionamento em um clique.

O que acontece é que, no fundo, esperamos viver um amor da Disney, mas nos é ensinando que esse tipo de amor não existe. Na verdade, o que não notamos é que, nas entrelinhas disso, querem nos dizer que idealizar é coisa de gente fraca e então, querem que nos contentemos com menos. Eu não me contento com menos. Se eu posso ser mais, para quê acreditar que as pessoas são menos?

O amor é uma construção de mão dupla. Se cada um agir por si, realmente não dará certo nunca. E, de tantas desilusões, a tendência é entrarmos novamente no ritmo que nossa geração está presa: Acelerado, com tudo muito fácil e entediante.

Vou usar o clichê do brinquedo, mas esse eu acho verdade: Todo brinquedo que ganhamos fácil na infância foi deixado de lado dentro do baú, empoeirado e esquecido. Mas aquele que demoramos tanto para ganhar e que sonhamos por noites até que chegasse o próximo Natal, nunca foram esquecidos.

Portanto, o amor deve ser construído com menos pressa, mais idealização sim, mais expectativas sim. Nossos melhores brinquedos foram idealizados e repletos de expectativas.

Para quê fingirmos que somos capazes de viver sem criar expectativas? Sempre criamos, é natural do raciocínio do ser humano.

Estou farta de conselhos ilusórios que tentam nos tirar de nossas próprias ilusões. Dizer para alguém não criar expectativas é irreal. É ILUSÓRIO!

Então, se o amor caminha em linhas tortas, que tentemos sambar em cima dessas linhas, mas não deixemos de sambar…

O amor vem para quem está disposto a vivê-lo. Não se iluda com a frustração de pessoas que criticam o amor da Disney, se estas nunca lutaram por um amor de verdade ou não foram felizes em experiências passadas.

No fundo, todos nós somos verdadeiros “Príncipes da Disney” quando queremos. Eles existem sim e estão dentro de todos nós. Admitam. Encontrem-os e sejam felizes.

Domie Lennon

Nasceu em Petrópolis-RJ, mestranda e graduada em Relações Internacionais pela Universidade do Brasil! Tem interesse em tudo que se pode imaginar, até química, física, logaritmo e quadrantes. Sempre adorou escrever e coleciona caixas de textos que escreve desde a infância. Seja sobre poesia da vida cotidiana ou sobre assuntos políticos, filosóficos, antropólogos, científicos, sua vida é de uma forma ou de outra ligada à tentativa de olhar o mundo com mais profundidade do que a correria da rotina nos permite. Nada lhe escapa, dos assuntos cotidianos às condições políticas que acontecem ao redor. O que varia é o horário, a inclinação do olhar ou da cabeça também... Quer falar todas as línguas do mundo... ou quase. Quieta de vez em muito, nada como a introspecção para refletir a vida um pouquinho. Mas também pode fingir ser a pessoa mais extrovertida do mundo se quiser. E engana bem. Da personalidade mais rara do mundo, INFJ com muito prazer!

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Domie Lennon

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