Eu acho que tantas vezes, da forma que a gente vive e é impulsionado a viver, a gente degusta os momentos da vida como um alimento insosso, como uma massa amorfa e funcional, que completa nossos dias, mas não nutre nossa alma.
Nossos sentidos devoram os dias como um prato cru e frio, as horas passam por nós nos atropelando ou não fazendo sentido, as coisas nos atravessam e não ficam. Escaneamos textos e informações, gostamos do que é curto, rápido, condensado, descartável. Queremos o gozo rápido, engolir mensagens, pessoas, aprendizados, dar conta de ser pessoas multifacetadas, que sabem um pouco de tudo, e do nosso profundo, quase nada.
Será que a gente não percebe mais que se a gente cede tempo para emoções e pensamentos, se a gente cozinha devagar os momentos, se a gente mergulha por inteiro, se a gente tem paciência, acredita que o olhar pode mudar com o tempo, que tudo se transforma, amadurece, cresce dentro da gente, a gente alimenta a nossa beleza de dentro? E tudo fica mais colorido, perfumado, apetitoso…
Afinal, para uma massa virar um belo bolo, ela precisa ficar quietinha no forno por uns bons 45 minutos. Para um vinho liberar seus mais finos aromas precisa passar por um longo repouso. Para um bom texto entrar na gente, ele precisa ficar dialogando com o que nos habita no íntimo. Para uma pessoa nos revelar, sem querer querendo, o seu melhor, seu mais humano, a gente precisa deixar que ela seja livre no tempo, nos deveres e sentimentos e encontre-se ou não à vontade perto da gente. Para um sentimento fazer sentido, não importando se na realidade externa ou interna, ele precisa vir à tona no nosso olhar e pensamento e inundar a nossa alma e então se dissipar ou crescer, antes que a gente racionalmente decida cortar suas raízes. Para um momento ter gosto e presença, a gente precisa aprender a extrair, com vontade e paciência, o seu melhor extrato, os seus mais finos segredos.
E acho que isso se faz com mãos delicadas, olhos intuitivos, sentidos despertos, deixando-se um pouco entregue as leis harmônicas do vento, e sabendo que um botão de rosas pode se tornar, em sua plenitude, uma linda rosa desabrochada, mas nunca poderá ser um crisântemo ou uma borboleta.
E, assim, a gente degusta a vida como um apaixonado, porque aprendemos a cozinhá-la devagar e com cuidado, colhendo o melhor tempero que cada momento e pessoa pode oferecer, do leve e sutil ao forte e apimentado.
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