Síndrome de Maggie Carpenter

A vida está cotidianamente igual, você é uma mulher de planos de carreira, ama seus amigos, sua família, adora viajar, cinema e bom livro. Você é independente, bem resolvida, decidida e está tudo ok em estar sozinha em algum período da sua vida. Os dramas da adolescência são engraçados dentro de uma caixinha escrita “10 anos atrás”. Então, mais dia, menos dia, distraída com a própria vida, você cruza, tropeça, derrapa, capota na curva quando conhece um carinha legal.

A princípio, você não dá a mínima, afinal o mundo está cheio de gente interessante. E as pessoas esbarram umas nas outras, não é mesmo? Acontece. Com o passar do tempo, você percebe que seus signos são até compatíveis, que vocês compartilham da mesma opinião política, que ele curte ouvir Mutantes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, e te indicou um livro que é referência dentro da sua filosofia de vida e você simplesmente nunca tinha lido. É um outro universo que está diante de você.

O que era pra ser uma visita democrática na dança das cadeiras da vida, passa a ser uma estadia. A paisagem é bonita, porque não deitar na rede para apreciá-la? É nessa hora que a brincadeira começa ficar séria, você se percebe mais envolvida do que gostaria e, assim, começa um movimento antigo e não desconhecido por você: autossabotagem e fuga. Você é Maggie Carpenter encarnada. Aos galopes você só quer cruzar o continente sem nem olhar para trás. Liga o rádio e “sabotagem, sabotagem, sabotagem, eu quero que você se top top top Uh!”, você dança. É sua trilha sonora.

É claro que estamos falando de princípios óbvios do livre arbítrio, que cada um faz e assume os seus atos. A portadora da Síndrome de Maggie Carpenter foge porque quer, certo? Desse jeito é impossível ela ser feliz se está sempre fugindo ao invés de assumir riscos, certo? Maggie Carpenter foge do seu último casamento por causa de um flash. Ele fechou os olhos, o noivo perdeu o contato visual, perdeu o imprinting com ela. Em alguns milésimos de segundos, aquela caixa escrita “10 anos atrás” se abre como uma caixa de pandora e Maggie foge.

Todo mundo gosta de viver histórias, principalmente se não houver grandes riscos. Mas depois de um tempo você começa pensar duas vezes antes saltar de grandes alturas sem paraquedas, afinal, você não se recupera tão rápido como antes. Fugir parece uma saída justificável até virar um vício e uma rotina. Não dá para pensar no que vale realmente a pena ou nas impossibilidades tão minunciosamente arquitetadas. De fato, você realmente está evitando histórias babacas, evitando perder tempo, evitando gastar afeto.

No resumo da ópera, não há muito com o que se preocupar. O destino tem criatividade o suficiente para reinventar novas entradas e bloquear saídas quando necessário. Alguém no fim das contas, vai tirar a caixa da sua mão e vai te perguntar porque diabos insiste em abri-la. Basta um palpite de sorte para que você saia desse estado hipnótico de memórias ruins e medo. Basta um novo passo na dança das cadeiras para que, enfim, a sua trilha sonora mude. Basta um amor dos bons. Daqueles que nada prometem, mas permanecem. Bastam alguns acasos para que Maggie volte a ser apenas uma personagem de um filme e, não mais, a protagonista da sua vida. E você pode começar o movimento agora, basta colocar a caixa no chão bem d-e-v-a-g-a-r. Respire fundo e tente não abri-la no próximo flash.

“Você quer um homem que a leve até a praia, com as mãos sobre os seus olhos, só para você descobrir o toque da areia sob seus pés. Quer um homem que te acorde ao amanhecer. Ele apenas não se aguenta para conversar com você e não pode esperar um minuto para descobrir o que você irá dizer.”

Maria Gabriela Verediano

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Maria Gabriela Verediano

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