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Seja você mesmo e não dê a mínima

A vida é curta e cruel se você vivê-la de forma passiva. É fácil se acomodar num trabalho qualquer que você odeia sonhando com a aposentadoria — que pode nunca chegar — na esperança de que a felicidade virá no futuro.

Claro que tudo na vida é relativo. O que serve pra mim, talvez não sirva pra você. E tá tudo bem. Não vou apontar uma arma na sua cabeça se não concordar comigo. Nem arrumar treta nos comentários. Somos seres singulares. Tá tudo certo.

Mas eu tenho uma sugestão. E eu tenho trabalhado nela diariamente pra que o meu papo não seja apenas teórico. Não desista dos seus sonhos ou ideias malucas de quando você era mais jovem. Tenha sede, tenha fome, seja um tolo. Não desista de si mesmo. Ninguém vai te pegar pela mão e te levar até a realização do teu sonho, parceiro. O negócio é tu contra tu. Be yourself and don’t give a fuck.

Enquanto jovens, somos bastante idealistas com nossas ideias e modo de viver. Só que isso vai se perdendo com o tempo. E falo por mim, um jovem adulto. O Matheus de 27 anos perdeu muito do brilho do olhar daquele Matheus de 20 anos que estava na faculdade. Nessa idade nós temos grandes planos de mudarmos o mundo, ajudarmos o outro e melhorarmos a sociedade. No entanto, à medida que envelhecemos, cansamos. Cansamos de lutarmos sozinhos. Cansamos dos políticos. Cansamos da violência. Enchemos o saco. E, pra muitos, o objetivo acaba se tornando, simplesmente, sair do Brasil. Desistimos dessa porra.

Nós percebemos que precisamos pagar contas. Casamos, temos filhos. As contas aumentam. E nossa energia vai sendo sugada por coisas chatas, coisas burocráticas. O banco que te fode cobrando algo indevido e você tem que fazer os corres pra resolver. A porra da operadora de telefonia que some com os teus créditos. A política do escritório de ter que cumprir horário mesmo quando seu trabalho já está feito. E aí aquele brilho no olhar vai sumindo aos poucos. Até desaparecer.

Não perca teu entusiasmo, cara. Permaneça jovem, flexível e motivado. A idade é só um número estúpido. O que vale é o que tens na cabeça. E no olhar. O olhar conta muito. Aquele brilho, saca?

E te falo que hoje é o melhor momento pra você perseguir seu sonho. Temos smartphones, laptops, câmeras digitais, Wi-Fi, 4G, Facebook, WhatsApp, YouTube, Instagram, e-books, blogs e uma infinidade de outras ferramentas e aplicativos úteis e disponíveis nas palmas das nossas mãos. Nunca na história da humanidade tivemos tamanha oportunidade de criarmos e produzirmos coisas. Sejam essas coisas um negócio digital ou mesmo arte. Tá tudo aí. Basta botar a mão na massa. Para com essa mania de querer tudo mastigadinho, pô.

Quando eu era moleque e queria ter uma banda, não tinha YouTube pra assistir vídeo-aulas ou então GarageBand pra gravar minhas músicas. Se você morasse numa cidade grande, talvez encontrasse uma escola de música. Do contrário, ou tinha que ter o dom de aprender as músicas de ouvido, ou comprar uma daquelas revistinhas com acordes que quem viveu nos anos 90 tá ligado.

E o escritor que tinha que ir atrás de revistas, jornais ou editoras pra ter seus textos publicados? Hoje basta criar uma conta no WordPress.

Se seu sonho era ser fotógrafo, você tinha uma chance limitada de acertar. 24 cliques, 36 cliques, dependendo do filme e da grana que você tinha. E nem dava pra ver o resultado na hora, já que as câmeras não tinham visor integrado. Photoshop? Lightroom? Esquece.

Home office? Talvez se você tivesse um aparelho de fax em casa. E olhe lá, né? Porque até pra trabalhar com telemarketing era foda. Não sei se você tem conhecimento disso, mas uma linha telefônica custava uma fortuna antigamente.

O fato é que, em comparação com nossos pais e avôs, somos incrivelmente privilegiados. Se esses caras venceram e fizeram acontecer com os recursos limitados que tinham, temos que ser muito bundas-moles pra não entregarmos nada de volta pra sociedade.

A maioria de nós nunca passou fome, nosso problema é a obesidade. A maioria de nós nunca passou sede, nosso problema é qual cerveja escolher. A maioria de nós nunca passou frio, nosso problema é o tamanho do guarda-roupas. E, apesar do que a mídia diz, o mundo hoje é um lugar muito mais seguro do que décadas atrás. Você pode me dizer que a qualquer momento podemos levar uma bala perdida ou que o terrorismo tá foda, mas nada se compara às duas Grandes Guerras — e todas as outras menos famosas, mas de impacto devastador.

Portanto, temos todas nossas necessidades básicas — e outras supérfluas — saciadas. Temos abrigo, comida, água e roupas quentes. Temos café e Wi-Fi. O que está nos segurando?

Eu acho que é o medo.

Tememos perseguir nossos sonhos porque temos medo de falhar. É simples. Tememos perseguir nossos sonhos porque temos medo do que os outros vão pensar. É lógico. Tememos perseguir nossos sonhos por termos medo do sucesso. Afinal, quem ganha dinheiro por aqui e faz acontecer é visto com maus olhos. “Certeza que roubou”. “Esse cara é uma farsa”. “Teve sorte”. O negócio é ser fodido e estar sempre na correria.

Muitos de nós também tem um problema com confiança. Ou melhor, com a falta dela. Não pensamos que somos talentosos ou inteligentes o suficiente pra realizar algo. Ficamos presos em nossas bolhas. Ficamos presos no sofá assistindo TV. Ficamos presos no feed de notícias do Facebook rindo de memes que esqueceremos logo em seguida. E o tempo vai passando. E ele é cruel.

Pois eu te digo pra ir pra ação.

Se você tem uma ideia de aplicativo, não se amarre ao pensamento limitador do “não sei fazer isso”. A Codeacademy te ensina a programar. De graça. Qual a desculpa agora?

Se teu sonho é ser fotógrafo, começa pelo Instagram.

Se teu sonho é fazer vídeos, vai pro YouTube.

Se teu sonho é ser escritor, faz tua conta no WordPress e compartilha pensamentos aleatórios por lá. Eu comecei assim.

Sério. Para de desculpas. Vai lá e faz.

Só vai.

E faz.

Matheus de Souza

Escritor e viajante. Autor de "Nômade Digital", livro finalista do Prêmio Jabuti 2020 na categoria Economia Criativa. LinkedIn Top Voice em 2016.

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