De repente parece que um furacão invadiu o quarto. A pessoa mal-humorada, já acorda a fim de causar, com a determinação de um missionário em peregrinação. Resmunga em voz alta; reclama; xinga; bate porta; arremessa gaveta. A intenção é claramente perturbar o companheiro (ou companheira, no meu caso), de quarto. Ou, pior! Sequer se lembra que há um companheiro de quarto!
Quem é que pode ser feliz quando é despertado, antes do dia clarear por um trator humano que esqueceu de usar o bom senso e já não faz a menor ideia do que seja gentileza, ou delicadeza há algum tempo?
Quem não funciona assim, na base do azedume, e ainda por cima tem uma paciência que beira o infinito, corre o risco de cair com enorme facilidade nas malhas ácidas da manipulação de um ser humano azedo. A fórmula é tão simples quanto incoerente, de um lado alguém que luta para estabelecer um ambiente de harmonia, leveza e companheirismo; de outro, um ogro (ou ogra) que já estabeleceu um comportamento isolado e construiu em volta de si mesmo uma casca impenetrável.
É claro que uma hora aquele que passou tempo demais tentando adoçar o azedume do parceiro, cansa. Cansa de buscar uma conexão. Cansa de insistir na relação. Cansa de lutar por um espaço afetivo onde haja um encontro que justifique a convivência. Cansa de ficar cansado. E, por fim, corre o risco de ver despertar em sua própria maneira de funcionar, um comportamento que destoa de tudo em que acredita.
Quando vai perceber, aquele que costumava ser doce, alegre, amoroso e brincalhão, transformou-se numa caricatura de si mesmo, alguém que perdeu o prazer de estar junto; alguém que anda irritado por qualquer coisa; alguém que está exausto de persistir sozinho numa missão que deveria ser cumprida a dois.
É muito difícil conviver com pessoas azedas. Elas se metem todos os dias em togas invisíveis, prontas para julgar o mundo, para determinar segundo sua lógica distorcida, o que é certo e errado. Têm ares de sabedoria, mas são emocionalmente ignorantes.
Estão sempre com o dedo em riste, prontas para apontar defeitos. Não aceitam ninguém que seja diferente delas, que pense algo diferente ou que faça o que quer que seja, de um outro jeito que não seja o jeito delas. Escolhem com quem e quando é conveniente ser “legal”.
Em geral, são muito metódicas e perfeccionistas. Não toleram nenhum erro alheio. Estão sempre atentas a qualquer deslize do outro. Pensam que nunca erram. Acham que todos os seus defeitos devem ser perdoados. Só escutam o que lhes convém. Humilham pessoas à sua volta por motivos banais. E, quando confrontados, negam seu comportamento, acham graça na sua exasperação e, não raras vezes, deixam você falando sozinho.
Nas raras vezes em que estão de bom humor, acham que todo mundo tem obrigação de festejar a sua alegria. Gente assim é um verdadeiro teste de paciência diário. Sou capaz de amá-las. Afinal, o desafio está justamente em amar aqueles que te fazem duvidar do amor.
Mas não me peça para reverenciá-las ou desperdiçar com elas a minha biológica habilidade de ser doce e generosa. Hipocrisia não faz parte do meu vocabulário!
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Detesto o que você escreve Ana Macarini. Você não sabe nada de nada. Sai fora.
Ana Macarini gostei da sua perspectiva, de modo que mesmo não sendo uma verdade universal para todos e todos os momentos, alguns pontos refletem determinadas situações. Parabéns.