“Não podemos fugir às lembranças das dores e das delícias, das ausências e das presenças, da água e do vinho, da terra e do mar, enfim, de tudo aquilo que já abalou a certeza amorosa, mas foi superado, vencido e digerido em favor do amor que sentimos.”
Quantos casais em crise, amantes em dúvidas, namorados afastados, não sofrem diante do dilema se vale a pena ou não permanecer, voltar ou retomar a relação, se tentar é o mais acertado ou se desistir é a única saída. Trata-se de um impasse terrível, uma vez que a tomada de decisão implicará ou alimentar um sonho, ou abrir mão dele. E, qualquer que seja a escolha, muita luta ainda haverá a ser travada.
Um conselho a que não se foge é evitarmos agir enquanto estivermos tomados por uma carga muito intensa de emoções, como a raiva ou o ódio, pois muito provavelmente falaremos o que não deveríamos e faremos o que não condiz com nossa índole. Embora devamos usar esses momentos para aparar as arestas e jogar limpo, tudo o que falarmos e fizermos de forma puramente emocional poderá ultrapassar os limites da decência e da ponderação necessárias.
Um de nossos maiores desafios será sempre tentar evitar do arrependimento e do remorso, pois já acumulamos culpas desnecessárias demais para somar mais estas ao rol de contrariedades que emperram nosso respirar tranquilo. Para tanto, esperar a tempestade abrandar, para que consigamos enxergar a situação com clareza, será o mais sábio e prudente, em qualquer situação adversa que atravessarmos.
Será, sim, necessário, muitas vezes, darmos um tempo para ficarmos com nada mais do que nossa companhia, analisando tudo o que vimos ou não fazendo de nossas vidas, no sentido de refletirmos olhando o contexto de longe, a uma distância segura e que nos proteja do outro e de nós mesmos. Será preciso perceber o quanto de nossa dignidade ainda resta e as reais chances de resgatarmos com vida e com afetividade sincera o que se perdeu.
Trata-se de uma viagem de volta, dolorosamente necessária, aos lugares por onde os parceiros já estiveram juntos, felizes, acreditando no sentimento que nutriam, de verdade, um pelo outro. As noites insones ao lado dos filhos, as juras de amor no banco do carro, os bilhetes, beijos roubados, a força do sol se abrindo após os vendavais de suas vidas, a força no aperto de mãos enquanto liam juntos exames médicos. Toda história de amor é formada também por grandes histórias de dor, lágrimas, escuridão e embates, desgastes, rupturas e cicatrizações muitas vezes solitárias.
Não podemos fugir às lembranças das dores e das delícias, das ausências e das presenças, da água e do vinho, da terra e do mar, enfim, de tudo aquilo que já abalou a certeza amorosa, mas foi superado, vencido e digerido em favor do amor que sentimos. Caso reste dignidade, caso haja amor – mesmo ali escondidinho -, sempre valerá a pena tentar e tentar, porque amor recíproco é um sentimento mágico, capaz de trazer luz às escuridões mais dolorosas que existem.
Amor não morre de uma hora para outra, não se for de verdade. E bem sabemos quando é esse amor que nos une ao parceiro – esse pelo qual devemos incansavelmente lutar.
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