Em menos de três meses, Regina viu falirem seu casamento de oito anos, e a empresa onde trabalhou por quase uma década. Encaixotando as coisas que lhe restaram, mesmo sem saber ao certo seu novo endereço, encontrou um livro deixado pelo ex-marido. Encostou-se na janela e começou a pincelar os olhos na história da rainha Himiko.

Com a guerra perdida e a iminência de sua morte pelas mãos dos inimigos, Himiko foi consultada por seus servos sobre o que gostaria de fazer. Himiko pediu que lhe fizessem o cabelo e o adornassem com sua presilha de esmeraldas – Majestade, porque se preocupar com isso agora? Eles vão invadir o palácio! – desesperou-se Yume – É o mais próximo da honra que podemos chegar agora – respondeu a rainha soltando os longos cabelos negros.

“O mais próximo da honra”, repetiu Regina. O que é honra em meio a tanto sofrimento e humilhação? Honra, descobriu Regina, é a sua joia rara que não pode ser ofuscada nem mesmo pela lama. Honra é a verdade silenciosa que vive dentro do seu espírito. Honra é o melhor que a vida lhe ensinou, seu livro sagrado mais íntimo, a verdade sobre quem você é, apesar da dor.

Nade para cima. Enquanto não surge um emprego melhor, coloque flores na sua mesa. Durante a noite silenciosa de insônia, aproveite para organizar os sapatos. Se estiver se sentindo só, bata na porta do vizinho e pergunte que música incrível é aquela que ele está ouvindo. Pergunte-se a cada quinze minutos, “O que eu posso fazer agora para me aproximar da minha própria honra?”. Pergunte-se e responda com um passo elegante, adiante.

Se não há dinheiro para malhar, corra, roube aquela bicicleta que a sua irmã encostou na lavanderia, marque aulas experimentais em quatorze diferentes academias. Se não pode viajar para longe, vá conhecer seu próprio bairro, vá tirar fotos nos prédios mais antigos, seja turista da sua própria cidade. Entre uma foto e outra, pergunte-se, pergunte-se. Quando estiver doendo, quando não conseguir pensar direito, quando você não se lembrar mais quem verdadeiramente é, pergunte-se como pode chegar bem pertinho da sua própria honra. E a resposta será sussurrada no seu coração: “Vivendo…vivendo, Regina”.

Diego Engenho Novo

Escritor, publicitário e filho da dona Betânia. Criador do blog Palavra Crônica, vive em São Paulo de onde escreve sobre relacionamentos e cotidiano.

View Comments

Share
Published by
Diego Engenho Novo
Tags: Nadar

Recent Posts

Esse filme de romance da Netflix é a dose leve e reconfortante que seu fim de ano precisa

Se você é fã de histórias apaixonantes e da fórmula que consagrou Nicholas Sparks como…

2 dias ago

Na Netflix: Romance mais comentado de 2024 conquista corações com delicadeza e originalidade

Se você está à procura de um filme que mistura sensibilidade, poesia e uma boa…

4 dias ago

Pessoas que foram mimadas na infância: as 7 características mais comuns na vida adulta

Uma infância marcada por mimos excessivos pode deixar marcas duradouras na personalidade de um adulto.…

6 dias ago

“Gênios”: Saiba quais são as 4 manias que revelam as pessoas com altas habilidades

Alguns hábitos podem parecer apenas peculiaridades do cotidiano, mas segundo estudos psicológicos e pesquisas científicas…

6 dias ago

As 3 idades em que o envelhecimento do cérebro se acelera, segundo a ciência

O envelhecimento é um processo inevitável, mas não linear. Recentemente, cientistas do Primeiro Hospital Afiliado…

1 semana ago

Desapegue: 10 coisas para retirar da sua casa antes de 31 de dezembro

Fim de ano é sinônimo de renovacão. Enquanto muitos fazem balanços pessoais, é também um…

1 semana ago