Por Daniela Vaccari
Passamos boa parte de nossas vidas ouvindo aquela velha história que diz que o nosso destino já está traçado, que está tudo pré-programado, é só deixar a água rolar, o barco andar e tudo o que está “previsto em contrato” acontecerá na hora certa. Será?
Às vezes passamos tanto tempo convictos de nossas próprias crenças que não enxergamos todas as coisas que vão além delas. Acreditamos que aquele primeiro amor de adolescência vai durar a vida inteira, que as nossas manias (e tudo aquilo que fazemos e que irrita os outros profundamente), são as coisas mais corretas e a forma mais coerente de se agir. No filme “Casa Comigo?” (2010), Anna, uma moça de Boston, aproveitou uma superstição irlandesa que diz que no dia 29 de fevereiro (ou seja, a cada quatro anos), todo homem que for pedido em casamento deverá aceitar. Seu namorado estaria em Dublin naquela data, então seria a oportunidade perfeita para… desencalhar. É óbvio que as coisas não saíram como Anna havia previsto e, obviamente, eu não vou contar o filme, você precisa assistir. Mas no ponto onde eu quero chegar é que a gente passa boa parte do nosso tempo fazendo planos, esquematizando coisas, bolando estratégias, contornando pelos caminhos mais longos para, simplesmente, tudo sair diferente do que estávamos imaginando. A vida é assim. E, no ponto de chegada daquela etapa, a gente olha pra trás e se dá conta que o nosso maior erro foi não ter percebido os sinais que estavam diante do nosso nariz o tempo todo.
A grande verdade, ou pelo menos a mais pura constatação, é a de que pensamos demais, agimos de menos e nos desconectamos constantemente de nós mesmos. Isso acontece no nosso trabalho, quando passamos anos e anos fazendo a mesma coisa sem nem entender porquê. Passamos a agir como robôs, desenvolvendo nossas tarefas de modo automatizado e exigindo cada vez menos esforços de nós mesmos. Aí eu pergunto: qual é a vantagem de executar com maestria uma tarefa da qual não gostamos e que não nos desperta sequer uma gota de inspiração ou emoção?
O mesmo vale para os relacionamentos, quando entramos naquelas “canoas furadas” e que acreditamos que aquilo é bom pra gente. Quando pensamentos ou comentários como “Mas nós estamos há tanto tempo juntos, estamos acostumados um com o outro” ou “Mas ele é bom pra mim” começam a ser corriqueiros, vale a pena dar uma reavaliada na situação. Por quê? Simplesmente porque quando começamos nossas frases com “mas”, é porque estamos tentando contestar uma ideia diferente da nossa, ou pior, estamos tentando convencer a nós mesmos de que aquilo ali é o que de melhor merecemos obter. E mais, com o amor de verdade, a gente nunca se acostuma.
Diferentemente de uma sensação de desconforto causada pelo total desconhecido, o amor verdadeiro sempre dá um jeito de despertar as borboletas em nossos estômagos, aquele arrepio na espinha. Se acostumar é se conformar com aquilo que não está bom ou que poderia ser melhor. Nos acostumamos com o mau cheiro quando moramos ao lado do mercado de peixes. Nos acostumamos a comer coisas que não são tão saborosas, mas que contém as vitaminas que precisamos. Nos acostumamos a acordar cedo para pegar o ônibus para o trabalho. Quando algo — ou alguém — desperta a nossa vontade de explorar, de descobrir, de experimentar, nós nunca precisamos nos acostumar a isso, pois queremos buscar sempre mais.
Certa vez eu publiquei um texto sobre Destino aqui no site e ele me fez lembrar de um outro filme, o “Escrito nas Estrelas” (2001). Esse filme conta uma história que é basicamente o oposto do que eu falei no início do texto. Jonathan e Sara se conhecem por acaso em NY e foi aquela coisa arrebatadora (tipo o fio vermelho do qual eu falei no texto sobre Destino) e então eles passam a noite caminhando pelas ruas de Manhattan. Apesar de os dois serem comprometidos com outras pessoas, Jonathan sugere que eles troquem telefones. Mas Sarah, acreditando na força do destino e na sincronicidade das coisas, tem outra ideia: Ela escreve seu telefone no livro “O Amor nos Tempos do Cólera” em um sebo e ele escreve o número dele em uma nota de cinco dólares. Se o certo fosse eles ficarem juntos, o destino iria se encarregar de uni-los novamente. É claro que essa é uma outra história que eu não vou contar o final justamente para que vocês assistam.
Tá, Dani, mas onde tu quer chegar falando de duas coisas totalmente opostas?
A verdade é que eu acredito nas duas coisas combinadas, tanto na parte racional e estratégica quanto na parte do destino. Eu acho que não dá pra simplesmente esperar que o destino se encarregue de tudo e te dê as coisas de bandeja. Na história do filme, houve a iniciativa, que foi escrever os telefones no livro e na nota de dinheiro. É claro que o Jonathan revirou todos os sebos possíveis e abriu todos os exemplares daquele livro. Aí é que está o X da questão! Imagine que no momento em que você toma uma decisão em sua vida, você escolhe uma porta dentre várias que estão na sua frente. Cada porta significa uma diferente decisão que você pode tomar. E dentro de cada porta, você encontrará outras. E, conforme você vai tomando decisões atrás de decisões, a sua vida se torna uma ramificação gigantesca e com infinitas probabilidades. Você só precisa tomar as decisões de acordo com aquilo que você realmente quer. Sim, aquilo que você REALMENTE QUER. Não pense em escolher um curso numa universidade porque ele te dará um futuro bom, porque o mercado está em falta de profissionais com tais habilidades e blá blá blá. Por tudo o que você considera mais sagrado, não faça isso.
E sabe por quê? Porque já passamos oito horas do nosso dia (às vezes mais do que isso) trabalhando. Depois mais oito horas dormindo (pelo menos é o que se espera). Muitas pessoas chegam a levar duas horas só no trajeto casa-trabalho-casa. Daí conta mais o tempo que se leva para fazer as refeições, tomar banho e mais alguma coisa, umas três horas. Sabe quantas horas sobram por dia? TRÊS. Apenas três horas. E muita gente ainda aproveita essas três horas para lavar roupa, limpar a casa e colocar as coisas em ordem. Quando é que sobra um tempo para você fazer aquilo que você realmente AMA? Nos finais de semana, em que pensamos em apenas descansar e arejar a cabeça? Não me parece muito produtivo. Mas e se o tempo que você chama de “trabalho” fosse preenchido com aquilo que você mais gosta de fazer?
Pense em alguma pessoa que você admira muito e na qual você vê aquilo que você chama de sucesso. Pensou? Ela provavelmente não ficou esperando as coisas acontecerem para ela. Como eu mostrei no texto “Como contornar obstáculos”, muitas pessoas que hoje são conhecidas no mundo inteiro, tiveram empregos que não tinham nada a ver com elas. Mas elas construíram o destino delas. Elas puderam fazer a escolha de deixar tudo como estava ou de seguir o coração. E hoje a gente fica pensando que, se o Jim Carrey tivesse continuado a trabalhar naquela fábrica, nós talvez nunca teríamos um Máskara como o que a gente viu no filme. Se o Bon Jovi tivesse continuado a fazer enfeites de Natal, os jovens da década de 80 nunca poderiam escrever trechos das músicas dele em cartas de amor. Se o Simon Cowell tivesse continuado a ser um entregador de correspondências na gravadora EMI, a gente nunca poderia assistir o programa The X Factor, que conseguiu promover o encontro de jovens que hoje fazem parte dos grupos que não saem dos fones de ouvido dos adolescentes: One Direction e Fifth Harmony.
A verdade é que quando você coloca amor naquilo que você faz, quando você se empenha, as coisas realmente acontecem. Você viverá dias em que pensará em desistir, porque nem tudo é fácil nessa vida. Mas que isso seja um motivo para você seguir em frente e tentar superar seus próprios limites. Nunca é tarde para começar a fazer o que se gosta. E quando a gente se liberta de todas as amarras que nos fazem pensar que devemos levar aquela vidinha “mais ou menos” com aquele emprego “garantido”, a gente percebe que a dedicação e as várias horas de prática nunca serão um fardo. O começo é igual para todo mundo, é zero. Se você desistir antes de começar, você já tem um não. Mas se você tentar, você pode chegar onde quiser.
Fonte indicada: Histeria Coletiva
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