“O meu amor anda tão perdido de mim que eu tenho medo de que ele não volte pra casa”.
É sempre muito triste quando um amor se acaba. Ou quando dois corações se perdem. Ou quando duas pessoas se desencontram. Ou quando tudo isso acontece ao mesmo tempo sem nem mesmo dar tempo de se olhar pro lado. Sem dar tempo nem da gente respirar. Porque não há nada mais triste do que um amor que chega ao fim. Não há nada mais triste do que aquele sentimento estranho de perda de alguém que não se imagina. De despedida que sempre parece ser antes da hora. Porque o amor dói quando se descola do peito e aderência tardia é coisa difícil de se lidar. Ardência de praia que chega só depois do banho, por mais que você tenha usado protetor solar. Sangue pisado no dedo que você só vê dias depois da topada. Corte feito com papel fininho que dói como se precisasse de ponto. Mas tudo isso é fichinha perto de um coração partido. Porque um amor quando se acaba é como flor que seca. Um jardim que é cimentado. Uma construção antiga que é demolida. E viver no deserto já faz tempo que não é a minha praia, apesar de saber o quanto é difícil ver um amor chegar ao fim. Porque amor que se acaba é antônimo de milagre. É tristeza certeira a desabar todas as tardes. É enchente de verão que derruba sem pestanejar. O que sobra é o buraco deixado pelo vazio que se faz quando um amor se acaba. Como horizonte infinito que a gente cansa de querer olhar. Porque chega o momento em que tudo cansa. Desiste-se do beijo. Do abraço. Da alegria. Porque não há nada mais triste do que um amor que se transforma em bom dia. Intimidade que vai para o espaço deixando uma onda de desconforto em cima de tudo o que ficou. Mais triste que um amor que se acaba é olhar e ver que o seu amor se acabou.
Crônica do livro As Maravilhas do País de Alice, Scortecci, 2008, de Alice Venturi.
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Ahhhhh essas suas ruas de palavras! Amo tanto que nem cabe! ❤