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Cuide do seu jardim de amor e ilusão com as próprias mãos

Quem nunca sofreu por se encantar com alguém, por alimentar expectativas, cultivar sonhos, alimentar uma estória que coloca mais sentido nos dias e então perceber que esse olhar de encantamento é unilateral?

Acho que todos já sofremos, pelo menos uma vez na vida, por uma paixão não recíproca. Deixamos nosso sentimento voar longe, se perder de vista, e de repente, lá das alturas, abrimos um pouco os olhos e nos damos conta que estamos sozinhos: voando com as próprias pernas, dando asas a nossa própria imaginação.

A gente pode não perceber, mas se o amor nasceu é porque havia vontade, ímpeto, terra fértil nos terrenos do coração. Era tão fértil a vontade de amar que as sementes todas brotaram mal caíram em terra, mal passaram pelos pensamentos. Era primavera dentro de nós e ela crescia independente, sem perguntar se o objeto de nosso encantamento estava também na mesma estação, se também iria entrar na dança.

Para a primavera, um olhar de soslaio é como chuva farta, uma meia conversa é sol acolhedor, cheio de luz boa, um gesto de amizade é o pipocar de flores coloridas nas árvores verdes.

Mas acontece, por vezes, da gente perceber que o ser-objeto de nosso encantamento não vai mergulhar no nosso jardim. Que ele está lá com seu olhar de inverno, com seus passos e sonhos em outras direções, com o coração já cheio ou num momento infértil e com os pensamentos morando longe.

E a gente não entende, como pode?! Como pode ele/ela não participar dessa festa de cores, aromas e sabores, se foi justo de seu sorriso que germinou uma semente? Se dele nasceu-me um mundo?

E a gente fica triste porque a gente quer compartilhar nossa florada, nossos arranjos, nossos buquês.

A gente se frustra e fica bravo e culpa o outro e se sente desperdiçado e desperdiçando belezas e a gente começa a pensar que o ser amado é um bruxo, irresponsável, mal, insensível, mentiroso, inconsequente, cego, etc, etc…

Aí a nossa razão nos diz para sermos menos ridículos e matarmos logo esse jardim proibido, tascarmos fogo nos doces pensamentos, abortarmos as sementes de esperança e ignorarmos os desejos maduros.

Afinal, amar sem cumprir expectativas é suicídio, não é mesmo?

Não, não acho!

Acho que se estou assim amando, solitária, voando em meus próprios sonhos, eu posso também escolher me responsabilizar por eles, eu posso escolher manter a minha primavera, regar as minhas próprias flores, deixar que me povoem e que cresçam selvagens e fortes até onde quiserem e puderem.

Eu posso perceber que o amor é todo meu e agradecer ao mundo. Eu posso sentir a serenidade bela do meu próprio jardim de ilusões. Afinal, ele é todo meu, nasceu e cresceu aqui.

Que ele fique enquanto houver sol e que acabe quando sentir que mudaram as estações.

Clara Baccarin

Clara Baccarin escreve poemas, prosas, letras de música, pensamentos e listas de supermercado. Apaixonada por arte, viagens e natureza, já morou em 3 países, hoje mora num pedaço de mato. Já foi professora, baby-sitter, garçonete, secretária, empresária... Hoje não desgruda mais das letras que são sua sina desde quando se conhece por gente. Formada em Letras, com mestrado em Estudos Literários, tem três livros publicados: o romance ‘Castelos Tropicais’, a coletânea de poemas ‘Instruções para Lavar a Alma’, e o livro de crônicas ‘Vibração e Descompasso’. Além disso, 13 de seus poemas foram musicados e estão no CD – ‘Lavar a Alma’.

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Clara Baccarin
Tags: jardim

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