Sabe aquela viagem que você guarda no fundo do coração, que ficou registrada na retina dos seus olhos, reservada no fundo da alma? Você já fez alguma viagem assim? A minha durou três dias. Não foi Marrocos, Indonésia ou Portugal, nada disso. A melhor viagem da minha vida foi a um hotel simples no Sul do meu Estado, onde cheguei sexta e só saí domingo de tarde.
Nessa viagem, – um tanto insana no primeiro dia, enfrentei o meu maior inimigo, aquele que me sabotou tantas vezes e nunca havia desconfiado. Sabem quem? Hein? Aquela que vejo em frente ao espelho: eu! E olha, brigamos feito final de Boxe na Olimpíada mais louca da minha vida.
Ao descobrir quem era meu real inimigo, acredite, tive a certeza de que enfrentá-lo seria mais difícil do que uma luta sem fim contra o melhor dos melhores lutadores do mundo. Foram tapas e pontapés sem sequer sair do lugar. Fui desafiada até o limite e quando achei que não aguentaria mais, pasmem: descobri que era capaz de algo muito maior do que havia feito (da minha vida) até aquele momento.
Tive a minha frente os meus medos mais sinceros, aumentados com lupa tamanho GG. Entrei no quarto escuro de cara limpa e sem arma. Bati de frente como os verdadeiros guerreiros fazem: lutei. Fiz o caminho de volta, lá no início de tudo, antes do antes de mim. E compreendi que o tamanho dos monstros que apareciam no meu quarto era exatamente proporcional ao que eu criava inconscientemente.
Estava amarrada ao passado com barbante barroco e sem brilho, daquele que não desmancha nunca. Eram nós e mais nós de uma parte de mim que puxava para baixo, na maior cara de pau. Nessa viagem quase maluca para dentro de mim, pasmem de novo: quis fugir. Porém, já havia entendido que poderia mudar o que sentia de um jeito muito corajoso: enfrentando sem príncipe ou cavalo branco. Era vida real. A minha vida real.
Enfrentei, chorei, relutei e me proibi de abandonar o barco. Comecei ali a assumir o comando da minha embarcação. Nesses três dias da melhor viagem da minha vida, coloquei a mão na massa, refiz convés, boreste, quilha e calado. Reorganizei as velas e determinei de uma vez por todas que a força de propulsão que envolvia meu barquinho era de minha responsabilidade.
Passei grandes dias da minha vida em menos de 72 horas. Rasguei a parte do mapa que me orientava a andar para trás e construí do zero um GPS exclusivamente meu. Foram dias de luta, de combate, de uma chance única de montar um exército de soldados incríveis dentro de mim.
Foi o momento de aprender que as guerras externas talvez eu não pudesse evitar, mas que as internas eram problema meu. Eu criei e só eu poderia declarar paz, levantar bandeira branca, pedir arrego ou como mais quiserem chamar. Que papo de doido, deve ter gente pensando agora.
Eu sei que pode soar estranho, mas não poderia deixar de contar um pedacinho do que vivi na melhor viagem da minha vida. Talvez ainda poste fotos no meu Facebook de momentos incríveis no Marrocos, na Indonésia ou em Portugal, mas nada, nada será igual ao que vivi naqueles três dias de imersão total, onde eu e eu marcamos o maior encontro de amor das nossas vidas.
Não, não ficou tudo perfeito. É evidente que os problemas não acabaram, eu ainda crio vários, aliás. A diferença é saber que eu sou responsável por eles, que os criei, que muito do que ainda pode parecer triste em minha vida é uma questão de ponto de vista (meu). E o caminho é infinito. A viagem foi apenas o primeiro passo. Ainda há muito o que caminhar. Caminho longo…
Ah Ju, e daí? E daí que tenho noção absoluta de que posso mudar meu estado de espírito e, com isso, modificar o que me move e tudo o que acontece depois disso. Talvez você ache uma besteira esse papo de viagem para dentro, tudo bem, eu te respeito. Talvez me procure para saber um pouco mais sobre essa parada. Independente de como seja, preciso dividir com vocês a maior de todas as coisas que aprendi naquele final de semana: somos todos únicos no mundo. Eu, você, todo mundo.
Enquanto não mudamos a forma como nos enxergamos, ninguém o fará por nós. Se nossas escolhas forem sempre as mesmas, não haverá outro jeito de viver a vida que não seja culpando os outros pelo que dá errado com a gente. Se eu quiser um resultado diferente, eu preciso fazer diferente.
Muitas outras coisas eu venho aprendendo depois daquele final de semana. Aprendo todos os dias enfrentando os desafios que aparecem no caminho. A cada momento de dificuldade, busco forças na pessoa que mais deve me amar no mundo: eu. Só assim consigo ser inteira para quem vive e divide comigo esse negócio lindo que a gente dá o nome de vida.
Ainda há muito o que errar! Ainda há muito o que mudar. Afinal, é errando que se aprende. É aprendendo que se muda! E é mudando que construímos o melhor que podemos ser. Assumir esse compromisso diante da vida é a única coisa que posso fazer por mim. Não sei qual foi a sua melhor viagem, mas a minha ainda vive dentro do peito. Aliás, quer saber o pacto que fiz naquele domingo, antes de voltar para casa? O de amar acima de qualquer coisa, a mim e aos que caminham comigo.
Hoje eu sei que essa foi a melhor viagem da minha vida.
Quem ainda não encontrou o seu valor é porque não procurou direito ou segue buscando no lugar errado.
Aqui fora podemos ver as cores das flores, como brilham e perfumam o jardim. Mas, acredite, para dentro é que estão as raízes.
É preciso abrir a porta. Olhar para dentro. Entrar fundo. É preciso ser feliz.
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